São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Rombo do Ecad pode ultrapassar R$ 23 mi

LUÍS PEREZ
DA REDAÇÃO

O rombo do direito autoral no Brasil pode ser maior do que os R$ 14 milhões mensais anunciados pela coordenadora-geral do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), Glória Braga, 33, em reportagem publicada anteontem pela Folha.
A quantia sonegada pode ultrapassar os R$ 23 milhões, segundo assessor de distribuição do órgão, Marival Padilha de Oliveira Júnior, 59, há dez anos no escritório.
"É modesto falar que, se todos pagassem, chegaríamos a R$ 21 milhões. Chegaríamos a R$ 30 e até passaríamos", afirma Padilha. A arrecadação mensal do Ecad está hoje em R$ 7 milhões.
O valor anual da arrecadação chegaria a R$ 420 milhões por ano. Na Argentina, esse valor ultrapassa os US$ 100 milhões. "A Bahia é um Estado festeiro. Se fôssemos cobrar dos trios elétricos e de todos que precisariam pagar, não haveria autores reclamando."
O escritório está informatizando, nestes dias, seu sistema de controle de arrecadação, identificação de autores, músicos, gravadoras e editoras -o trabalho está sendo estendido às 15 sucursais.
Segundo Padilha, além dos fiscais, é preciso ficar atento aos contratantes de shows -principalmente os distantes dos grandes centros, como Norte e Nordeste.
"Na semana passada, um deles tentou corromper um agente nosso, que desapareceu sem prestar contas", conta Padilha. O suborno: R$ 800. No caso, o Ecad deixou de arrecadar R$ 4.000. "Depois o fiscal confessou. Isso é crime."
"Essa prática mutila a cultura nacional, pois o compositor não é devidamente remunerado pela criação dele", opina o assessor.
O Ecad está passando por ajustes, como a troca do sistema manual de aferição pelo de computadores -o que tem causado um certo transtorno nos últimos dias.
Tanto que, na semana passada, Padilha demorou um dia inteiro para fornecer à Folha o ranking dos artistas que mais arrecadam -os valores não são revelados, a pedido dos compositores.
Tom Jobim
Na lista de agosto, estavam Zezé di Camargo, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Leandro Leardi, Peninha e Buchecha.
Também é comum aparecer entre os cinco mais executados, no Brasil, Tom Jobim.
Zezé di Camargo, que lançou seu disco em setembro e alcançou atualmente, com "Toma Juízo", o topo da arrecadação do direito autoral, fez a denúncia de que há fiscais que recebem suborno para fingir que não fiscalizaram seu show.
Ele também reclama: "Existe uma suspeita de que há autores que pagam para os apontadores de música para que elas sejam indicadas como as mais executadas".
Ele contesta, por exemplo, a inclusão de Tom Jobim entre os primeiros colocados. "Nada contra, mas ele não lança um disco e não vende 1 milhão de cópias no Brasil há muitos anos, não tem música em paradas. Até hoje 'Garota de Ipanema' toca tanto? Não dá para entender."
A coordenadora Glória Braga rebate: "O Zezé precisa entender que, enquanto ele estoura com uma música, Tom Jobim tem 20 músicas sendo executadas constantemente em todo o Brasil. E isso faz com que as arrecadações deles acabem ficando parecidas".

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