São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997 |
Próximo Texto |
Índice
Rombo do Ecad pode ultrapassar R$ 23 mi
LUÍS PEREZ
A quantia sonegada pode ultrapassar os R$ 23 milhões, segundo assessor de distribuição do órgão, Marival Padilha de Oliveira Júnior, 59, há dez anos no escritório. "É modesto falar que, se todos pagassem, chegaríamos a R$ 21 milhões. Chegaríamos a R$ 30 e até passaríamos", afirma Padilha. A arrecadação mensal do Ecad está hoje em R$ 7 milhões. O valor anual da arrecadação chegaria a R$ 420 milhões por ano. Na Argentina, esse valor ultrapassa os US$ 100 milhões. "A Bahia é um Estado festeiro. Se fôssemos cobrar dos trios elétricos e de todos que precisariam pagar, não haveria autores reclamando." O escritório está informatizando, nestes dias, seu sistema de controle de arrecadação, identificação de autores, músicos, gravadoras e editoras -o trabalho está sendo estendido às 15 sucursais. Segundo Padilha, além dos fiscais, é preciso ficar atento aos contratantes de shows -principalmente os distantes dos grandes centros, como Norte e Nordeste. "Na semana passada, um deles tentou corromper um agente nosso, que desapareceu sem prestar contas", conta Padilha. O suborno: R$ 800. No caso, o Ecad deixou de arrecadar R$ 4.000. "Depois o fiscal confessou. Isso é crime." "Essa prática mutila a cultura nacional, pois o compositor não é devidamente remunerado pela criação dele", opina o assessor. O Ecad está passando por ajustes, como a troca do sistema manual de aferição pelo de computadores -o que tem causado um certo transtorno nos últimos dias. Tanto que, na semana passada, Padilha demorou um dia inteiro para fornecer à Folha o ranking dos artistas que mais arrecadam -os valores não são revelados, a pedido dos compositores. Tom Jobim Na lista de agosto, estavam Zezé di Camargo, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Leandro Leardi, Peninha e Buchecha. Também é comum aparecer entre os cinco mais executados, no Brasil, Tom Jobim. Zezé di Camargo, que lançou seu disco em setembro e alcançou atualmente, com "Toma Juízo", o topo da arrecadação do direito autoral, fez a denúncia de que há fiscais que recebem suborno para fingir que não fiscalizaram seu show. Ele também reclama: "Existe uma suspeita de que há autores que pagam para os apontadores de música para que elas sejam indicadas como as mais executadas". Ele contesta, por exemplo, a inclusão de Tom Jobim entre os primeiros colocados. "Nada contra, mas ele não lança um disco e não vende 1 milhão de cópias no Brasil há muitos anos, não tem música em paradas. Até hoje 'Garota de Ipanema' toca tanto? Não dá para entender." A coordenadora Glória Braga rebate: "O Zezé precisa entender que, enquanto ele estoura com uma música, Tom Jobim tem 20 músicas sendo executadas constantemente em todo o Brasil. E isso faz com que as arrecadações deles acabem ficando parecidas". Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |