São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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Busca pela sabedoria incentiva escalada

MARCIO HUDSON
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um jipe leva para Amboseli, ao encontro da bilionésima cena de elefantes pastando na planície dourada, com o pico nevado do Kilimanjaro ao fundo.
Embora a montanha esteja na Tanzânia, faz parte da paisagem queniana. A melhor vista é de Amboseli, onde não há campings, e a diária individual em um lodge custa US$ 85, com três refeições.
Atingir o cume nevado do Kilimanjaro, a 5.895 metros, é a maior aventura da África. Esse vulcão extinto, que se formou há 3 milhões de anos, é a maior montanha isolada do mundo, e o ponto mais alto que alguém pode subir sem treinamento especial. Pela rota Manguru são quatro dias e meio de caminhada montanha acima.
No primeiro dia, descansamos nas cabanas de Mandara, uma das três etapas de adaptação. No segundo, chegamos às cabanas de Horombo, onde permanecemos dois dias. No quarto, fomos para Kibo, de onde partimos às 2h, para atingir o pico ao amanhecer. Do topo da cratera, acima das nuvens vimos o alvorecer.
Às 8h, retornamos a Kibo e, ao meio-dia, partimos para Horombo. No sexto dia, descemos direto para Mandara. Diz a lenda que o rei Menelik, da Abissínia, filho de Salomão e da rainha de Sabá, que conquistou toda a África Oriental, ao pressentir a proximidade da morte, escalou o Kilimanjaro com seus escravos e tesouros (o anel de Salomão entre eles) e não voltou.
Sabedoria e coragem
Ainda segundo a tradição, quem encontrar o anel herdará a sabedoria de Salomão e a coragem de Menelik. Se não o encontrar, ao menos desfrutará de uma visão soberba e inesquecível do teto da África.
A exuberância da vida selvagem confinada naquele pequeno espaço é miraculosa: rinocerontes, leões, zebras, gnus, antílopes, búfalos, hipopótamos, hienas e leopardos. O lago Magadi é repleto de flamingos, que se alimentam de plânctons das águas sulfurosas.
No Serengeti, sob a sombra de uma árvore, um grupo de leões almoça uma zebra. Do alto de uma colina, descortina-se uma planície dourada que abriga 2 milhões de animais. Quando o motor do jipe é desligado, o único som é o da brisa. Em absoluto silêncio, os leopardos saem à caça. A 110 km/h, os guepardos alcançam suas presas. Assim é o Serengeti, o lugar mais selvagem da África.
Para descansar de toda essa correria pelas savanas, peguei um trem de Nairóbi para Mombasa, no litoral do Quênia, e finalizei a viagem em Watamu. O oceano Índico é alucinante. As praias são desertas, de areia branca e fina como talco, água cristalina, verde-esmeralda, e recifes de corais habitados por peixes multicoloridos.
No dia seguinte, fiz um passeio a Malindi, onde está o pilar de pedra deixado por Vasco da Gama em 1498, como agradecimento ao xeque de Malindi, que lhe deu provisões e lhe ensinou o caminho da Índia. Eu tive de reaprender o caminho para o Brasil. Só quem conhece a África conhece este planeta.

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