São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 1997
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Acordo inédito reduz salário em São Paulo

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Força Sindical e a indústria de autopeças fecharam ontem um acordo inédito de redução da jornada de trabalho e dos salários.
É a primeira vez que um setor industrial e uma central sindical chegam a um acordo dessa natureza no Brasil. Até ontem, os casos registrados de redução de salário e jornada foram concretizados em negociações isoladas entre empresas e sindicatos.
Com o acordo, que será assinado amanhã, as indústrias que aderirem poderão reduzir em até 25% a jornada de trabalho e em, no máximo, 10% os salários. Se a fábrica optar por uma diminuição da jornada menor do que 20%, o corte nos salários terá de equivaler à metade dessa redução. Assembléia dos trabalhadores também terá que aprovar o corte.
Segundo o negociador do Sindipeças, Drausio Rangel, a tendência é que as empresas optem pela redução de 20% na jornada e 10% nos salários, percentuais que os empresários e sindicalistas vêm usando como base há pelo menos uma semana, quando as linhas gerais do acordo foram acertadas.
Cerca de 360 empresas, contando não filiadas ao Sindipeças, e 140 mil metalúrgicos no Estado de São Paulo poderão negociar a redução de salário e de jornada. O Sindipeças calcula que 70% das empresas devem aderir ao acordo.
Os cortes de jornada e de salário poderão ser feitos entre janeiro e março de 98. As empresas têm até o final de fevereiro para aderir.
"Estamos apostando que até lá o governo irá alterar as taxas de juros. É um risco que nós corremos", disse o presidente da Força, Luiz Antônio de Medeiros.
Indústrias onde os trabalhadores são filiados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) não estão incluídas. Na semana passada, a central abandonou as negociações com o Sindipeças por não aceitar a redução de salários.
Os 16 sindicatos da CUT no Estado, entre eles o dos Metalúrgicos do ABC, representam cerca de 50 mil trabalhadores em 170 empresas de autopeças.
Para fechar o acordo, a Força Sindical acabou recuando na proposta de compensação futura maior das horas não pagas.
A central queria, pelo menos, um acréscimo de 50% sobre o valor da hora não paga que vier a ser reposta no futuro, mas acabou aceitando que esse ponto ficasse de fora do acordo.
Em troca, as empresas serão obrigadas a devolver integralmente a parte cortada do salário aos funcionários que forem demitidos até 31 de dezembro de 98.
Os metalúrgicos também fecharam com o Sindipeças um acordo que permite a transformação das férias coletivas deste ano em licença remunerada. Isso vai permitir um fôlego às empresas no final do ano, já que a licença remunerada, ao contrário das férias coletivas, só é paga depois que os funcionários retornam do descanso.

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