São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 1997
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O filho da Xuxa

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Estamos condenados a passar nove meses preocupados com o filho (ou filha) que Xuxa vai ter. A moça merece ser feliz e, segundo consta, um rebento trará felicidade a ela e à plebe que a consagrou como uma das deusas de nosso tempo.
O diabo é que eu já tenho problemas demais e ser obrigado a ter mais um é dose talvez imerecida. Ainda que não queira, a mídia me empurrará esse assunto pela goela. Outro dia, a manchete da primeira página de um jornal aqui do Rio, justo no dia em que mexiam no meu Imposto de Renda, informava que "o carioca prefere a praia da Barra".
Não era uma notícia chutada. Pelo contrário, lá estavam os números, o universo pesquisado, a divisão por sexo, idade, profissão e renda, tudo nos conformes. Cada vez mais a mídia procura informar correta e honestamente, evitando opiniões pessoais e sacramentando a vontade ou o gosto da maioria. Por 79% contra 12% mais 9% de indecisos ou que não sabem, chegamos à verdade (seja ela qual for) que durante 8.000 anos filósofos e teólogos perseguem sem resultado.
Evidente que vamos torcer numa corrente pra frente a fim de que tudo corra bem para a moça. Antigamente, havia um tal do teste do sapo, era um dos exames para se saber se a gravidez corria bem ou mal. Desconfio que a ciência já dispõe de recursos melhores para isso. Mas nunca se deve brincar com essas coisas e o melhor mesmo é esperar pelos nove meses protocolares para podermos relaxar.
Até lá, teremos um Natal, um réveillon, um Carnaval e uma Copa do Mundo. O ano que vem será denso para nossas cores, enquanto o filho da Xuxa não nascer seremos obrigados a consumi-lo antecipadamente. Peso, tamanho, cor dos olhos, alimentação, brotoejas -tudo isso será prioridade nacional.
De minha parte, só ficarei tranquilo quando Dona Neuma da Mangueira e Dona Zica do Cartola garantirem pelos jornais que tudo está bem.

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