São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Hospital é acusado de omitir socorro

DA REPORTAGEM LOCAL

O balconista Francisco Claudeone, 27, acusa de omissão de socorro o hospital Waldomiro de Paula, em Itaquera, São Paulo, que faz parte do módulo 5 do PAS (Plano de Atendimento à Saúde).
Claudeone chegou ao hospital desmaiado, no carro de um desconhecido que o socorreu na rua, acompanhado da mulher, Rosa Xavier, 25.
Ele sentiu falta de ar na manhã de ontem, durante o trabalho, numa loja de artigos para aquários.
Entretanto, quando Claudione chegou ao hospital foi atendido por dois funcionários do PAS que, ao invés de atendê-lo, sugeriram que ele estaria bêbado. Entrevistado pela Folha, o balconista não apresentava sinais de embriaguez.
"Eu trabalho perto dele e o deixei sentado na calçada para ir chamar alguém para levá-lo ao hospital. Quando voltei, ele já estava desmaiado", conta Rosa.
Ao recobrar-se do desmaio, já no hospital, o balconista foi atendido por uma mulher. "A primeira coisa que ela fez foi perguntar se eu estava bêbado."
Apesar de ter estranhado a pergunta, Claudeone respondeu negativamente. Outro funcionário do PAS, que não se identificou, apareceu e insistiu: "Você bebeu? Eu acho que você bebeu."
Claudeone se irritou e, apesar de ainda sentir dores, levantou-se da maca, dizendo que não queria mais ser atendido no hospital.
Depois de ser controlado por seguranças, o balconista foi com a mulher, em um táxi, até o Hospital Itaquera (particular), onde foi submetido a uma radiografia e medicado.
Os médicos que atenderam o balconista diagnosticaram que ele desmaiou em consequência das dores causadas depois de sofrer uma inflamação num nervo do tórax, próximo do coração.
O rapaz recebeu uma injeção de um antiinflamatório e foi colocada uma tala em torno de seu tórax.
A consulta e o tratamento custaram R$ 113, que o balconista vai terminar de pagar quando retornar ao hospital.
"Se isso já aconteceu logo que cheguei no Waldomiro de Paula, imagina se eu aceitasse ser atendido lá? O imposto que eu pago é para que eles nos atendam e o que eu recebi foi desaforo deles."
O caso de Claudeone coincide com denúncias que a Folha recebeu ontem de que os funcionários do hospital estariam realizando uma greve parcial, em virtude de alterações no corpo clínico implementadas pelo novo interventor do hospital, Alfredo Vita, que tomou posse na última semana.
Apesar do caso ocorrido com o balconista, a reportagem percorreu os corredores do hospital e não foi detectada nenhuma anormalidade no atendimento, como filas desproporcionais e pessoas em casos de emergência sem socorro.
O balconista foi ao 32º DP (Itaquera) registrar a ocorrência, mas funcionários da delegacia disseram que não poderiam fazer o BO caso ele não tivesse o nome dos acusados. Por causa disso, ele deverá denunciar o caso somente hoje à Corregedoria da Polícia Civil.

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