São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Famílias suspeitam de conteúdo do laudo

DA REPORTAGEM LOCAL

Parentes de vítimas do acidente com o vôo 402 afirmam ter estranhado o fato de a TAM não aparecer como uma das responsáveis pelo desastre.
"Ainda há muita coisa, até de caráter técnico, a esclarecer", afirma Fernando Melo, pai de uma das 99 vítimas, que mora em Belo Horizonte.
"Não posso compreender como o piloto e o co-piloto não se entendem, esquecem de completar a decolagem para tentar resolver um problema do avião, e a Aeronáutica conclui que isso não contribuiu para o acidente", disse ontem. "Parece claro que faltou coordenação na cabine."
Ele também questiona o fato de o trem de pouso não ter sido recolhido, apesar de o Fokker-100 ter voado por 25 segundos.
"Recolher o trem logo após a decolagem é um procedimento básico, que não foi seguido e poderia ter aumentado a velocidade do avião e o ajudado a ganhar altitude. Como é que se pode ignorar essa falha?", pergunta.
Para a viúva Heloísa Gouvea, vice-presidente da associação de amigos e parentes de vítimas, a conclusão da Aeronáutica surpreendeu.
"Esperava que as responsabilidades fossem pulverizadas, mas não pulverizadas só entre companhias estrangeiras, com a TAM saindo sem qualquer responsabilidade", afirmou ontem.
O advogado Renato Guimarães afirmou que desconfia dos resultados da comissão de investigação porque era composta por muitos representantes de empresas envolvidas, como TAM, Fokker e Rolls-Royce.
"Todas eram interessadíssimas nas conclusões da investigação e tinham assento na comissão. As famílias eram igualmente interessadas e não tiveram acesso aos trabalhos. Assim, as conclusões são suspeitas", disse.
A viúva Margarete Linden diz que "era previsível" que a TAM acabasse não sendo responsabilizada pelo acidente.
"Ela tinha muita gente na comissão. Dava para imaginar o que iria acontecer", afirmou ontem.
Margarete, que esperava o laudo para iniciar ação de indenização, mantém sua intenção de entrar com o processo no Brasil, com base no código do consumidor.

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