São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Sindicatos são ativos desde as greves do final dos anos 70

DA REPORTAGEM LOCAL

As manifestações dos anos 90, qualquer delas, não conseguem fazer sombra ao período de maior destaque do movimento sindical do ABC paulista, entre 1978 e 1983, em plena regime militar.
A maior manifestação de metalúrgicos e outras categorias do ABC até hoje continua sendo a ocorrida em 1º de maio de 1980.
Na celebração do Dia do Trabalho daquele ano, os sindicatos conseguiram concentrar 100 mil pessoas no Paço Municipal, o mesmo espaço que ontem abrigou, segundo as estimativas dos organizadores, no máximo 30 mil.
O 1º de maio de 1980 foi marcado por pesados conflitos entre manifestantes e a Polícia Militar, com pedradas de um lado e bombas de gás lacrimogêneo do outro.
A primeira manifestação de destaque na região, entretanto, ocorreu dois anos antes, em 1978, na greve dos metalúrgicos no mês de maio.
Foi a primeira greve generalizada da década e o governo federal não demorou em mandar para a região do ABC tropas do Exército.
Em outra manifestação memorável, em março de 1979, os metalúrgicos levaram cerca de 60 mil pessoas para uma assembléia no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo.
A região do ABC, com sua concentração de indústrias (que já foi maior do que é hoje), é considerada berço de muitas personalidades políticas.
Isso porque nessa época das greves várias lideranças políticas de hoje começaram a aparecer no cenário nacional.
A mais famosa, Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ainda encontra grande apoio entre os trabalhadores da região.
Ontem, o presidenciável Lula, o último a discursar no ato público, comparou as manifestações dos anos 80 e com as de agora.
"Hoje a luta dos trabalhadores é dez vezes mais difícil. Naquele tempo, nós estávamos lutando por salário. Agora, a briga é pelo emprego", disse.
"Hoje a luta é mais difícil e tem que ser melhor preparada", acrescentou.
O desemprego, aliás, que fez com que a categoria diminuísse pela metade na última década, é um dos fatores que explicam a baixa adesão de trabalhadores às manifestações organizadas pelos sindicatos do ABC.
A própria Volkswagen, alvo principal do ato de ontem, é um exemplo.
Quando Lula liderava o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a montadora possuía cerca de 47 mil funcionários na fábrica de São Bernardo.
Atualmente, o atual presidente do sindicato, Luiz Marinho, conta com uma base de quase 23 mil trabalhadores na unidade.
Desse número, 10 mil estão ameaçados de perder o emprego.
Personagem mais insultado no ato público de ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso já esteve do lado de cá.
Nas manifestações dos anos 80, FHC panfletava nas fábricas, discursava nos palanques e compunha o grupo intelectual que orientava os passos da esquerda. Os movimentos grevistas contavam também com shows de artistas.

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