São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997 |
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'Clube...' tem muito sexo e erotismo zero
NINA HORTA
Um deputado do partido conservador, pressionado pela opinião pública, resolve entrar no círculo dos clubes sadomasoquistas para descobrir o que acontece no mundo do Mal. Mas para tal incursão seria necessário alguém jovem que não atraísse a atenção dos membros e pudesse juntar provas de ilegalidade para que os clubes parassem de funcionar, tudo em nome das mulheres ofendidas e do abuso da mídia infectada pelos acontecimentos escandalosos. A pessoa contratada para o serviço é Peter, filho de uma das secretárias do deputado, rapaz bonito, virgem e religioso. Muito contra a vontade, ele entra num "site kinky" e começa uma amizade com a ama, dona do clube, uma Barbie sadô. Para enfrentá-la, sai às compras e se paramenta numa mistura de roupa de couro, correntes e espetos à la Supla e material à la James Bond. Cai no meio da fauna exótica dos dominadores e dominados, em bailes com boa música tecno, muito barulho, fantasias coloridíssimas e erotismo zero. O diretor conseguiu o feito quase impossível de apresentar toda a parafernália do clube, as perversões variadas, endorfinas, altos graus de limite de dor, sexo, como se fosse um romancezinho de capa azul, de uma pureza total. Logo o rapaz começa a achar que o Diabo não é tão feio como parece e faz tudo para satisfazer a fantasia sexual da ama sadô, que é casar de véu e grinalda, ter filhos, cuidar da casa e de um cachorro. E a insinuação do diretor é que a sociedade não passa de um clubezão formado por dominadores e dominados, mostrado pelo próprio protagonista quando ele se candidata ao emprego e se propõe a fazer qualquer serviço, por mais humilhante que seja. No poder das mulheres que rodeiam o senador, no servilismo dos garçons, dos atendentes da sauna e recepcionistas da Casa dos Deputados. No nível de tolerância ao sofrimento dos homens afundados no forno de Bier, nas roupas e perucas de cachos brancos dos deputados que empatam com a excentricidade dos clubbers e seus piercings. No clique seco das algemas do preso, no costume de abaixar as calças dos alunos de escola para as chicotadas e na proverbial tendência inglesa ao sexo pervertido. O clube sadomasoquista, por sua vez, não passaria de um grupo inseguro, com pai, mãe, escola, ursinho de pelúcia, diário, ciúmes e amores, lésbicas dando de mamar a bebês, muito cor-de-rosa e brega. A conhecida canção de ninar cantada por Peter no final é a imbricação dos dois mundos. O do deputado interessadíssimo em sexo e eleições e o dos sadomasoquistas bobocas proibidos de consumar o ato sexual. "Eu amo minha pequena 'pussy', seu pêlo tão quentinho. Se eu não a machucar, ela também não me fará mal. Não puxo seu rabo, nem a mando embora, e 'pussy' e eu brincaremos juntos para sempre." Filme: Clube do Fetiche Produção: Inglaterra, 1996 Direção: Stuart Urban Com: Guinevere Turner, Christien Anholt, Tom Bell Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco 1 Texto Anterior: Rolling Stones faturam mais com menos shows nos EUA Próximo Texto: Livro fala do fetichismo na moda Índice |
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