São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 1997
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Blair desconfia de cessar-fogo irlandês

IRINEU MACHADO
DE LONDRES

O primeiro-ministro Tony Blair demonstrou ontem sinais de desconfiança sobre o cessar-fogo dos republicanos. Em mais um histórico passo no processo de paz na Irlanda do Norte, o líder republicano Gerry Adams foi recebido ontem em Londres pelo premiê, na sede do governo britânico.
Os dois se sentaram frente a frente por quase uma hora. Blair, em entrevista a emissoras de TV, disse: "Deixei claro que se houver um retorno da violência, eles (do Sinn Fein, partido de Adams) serão retirados das negociações".
Blair disse que "gostaria de ver mais progresso" nas negociações. Adams saiu do encontro dizendo que não queria "minimizar as dificuldades", mas que foi "um bom momento na história".
Os dois lados mencionaram que a próxima etapa importante do processo de paz está no entendimento entre os partidos envolvidos nas negociações.
Martin McGuinness, um dos negociadores do Sinn Fein, desafiou o principal líder unionista (contra a emancipação norte-irlandesa), David Trimble, do Partido Unionista do Ulster, a se encontrar com Adams. "Esse seria um gigante passo à frente no processo", disse. "O que é importante é fazer os partidos sentarem para negociar", declarou Blair.
Nem Blair, nem Adams, entretanto, revelaram mais detalhes da conversa.
Embora avaliada por alguns como um encontro mais "simbólico" do que decisivo, analistas políticos acreditam que, como disse Blair, "há mais substância do que parece" por trás das negociações.
Adams teria pressionado Blair pela libertação de terroristas do IRA. O Sinn Fein reclama também do Exército Britânico, que não estaria "interessado na paz".
Blair, por sua vez, teria exigido mais firmeza nos comprometimentos e mostrado preocupação com a divisão interna do Sinn Fein. O premiê teme que a ala republicana contrária às negociações provoque uma suspensão do cessar-fogo iniciado em julho passado. Mais de 3.000 pessoas morreram em conflitos entre republicanos e unionistas desde 1969.
Blair não permitiu registro de imagens do encontro.
Os dois já haviam se encontrado no último dia 13 de outubro, na Irlanda do Norte. Antes disso, o último encontro entre um líder republicano e um premiê britânico havia ocorrido em 1921.
A importância histórica da aproximação entre eles se nota no tratamento que Adams tem hoje do governo britânico.
Presidente do Sinn Fein (braço político do grupo terrorista IRA, o Exército Republicano Irlandês), Adams teve entre 1988 e 1994 sua voz proibida de ir ao ar em emissoras de rádio e TV no Reino Unido. Por vezes, sua imagem aparecia no noticiário com voz dublada.
Cerca de 50 pessoas, entre militantes unionistas e republicanos, fizeram manifestações nas proximidades do número 10 da Downing Street, onde ocorreu o encontro. Os manifestantes foram mantidos afastados pela polícia.

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