São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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PM expulsa líderes de protesto por salários

FÁBIA PRATES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Os dois principais líderes da manifestação dos PMs mineiros por melhores salários, o cabo Júlio César Gomes, 27, e o sargento Washington Rodrigues, 33, foram excluídos ontem da corporação.
A exclusão, decidida pelo Conselho de Disciplina e assinada pelo ex-comandante-geral da PM Antônio Carlos dos Santos, na quinta-feira (último dia do coronel no posto), inclui outros seis nomes.
Ao todo, 18 policiais já foram excluídos da corporação, desde junho, por terem participado do movimento grevista.
Segundo o relações-públicas do alto comando da PM, major Rômulo Berbert Diniz, outros 538 policiais foram punidos com prisões administrativas. Eles serão obrigados a ficar recolhidos no quartel. A maioria das prisões vai durar 48 horas, segundo a PM.
Além das punições administrativas, aplicadas aos manifestantes que na opinião do comando da PM cometeram atos de indisciplina, quebra de hierarquia e desrespeito ao regulamento interno, os policiais grevistas estão sujeitos também a punições penais.
O comando da PM já encaminhou à Justiça Militar o resultado de 27 IPMs (Inquéritos Policiais Militares), com indiciamento de 826 policiais. Outros 12 IPMs estão sendo analisados e um está em andamento.
Segundo Diniz, a exclusão dos líderes não é retaliação. "Foi tudo feito dentro da lei."
O governador Eduardo Azeredo (PSDB), segundo sua assessoria de imprensa, disse que a decisão de exclusão foi tomada depois de muita reflexão. "Tudo foi feito dentro dos aspectos democráticos e da disciplina militar. A PM é uma atividade voluntária e participa dela quem está disposto a obedecer os seus princípios", afirmou.
Reação
Os líderes expulsos vão recorrer à Justiça para tentar reverter a decisão do comando da PM.
Segundo o cabo Júlio César Gomes, eles foram reconhecidos pelo comando como negociadores, e houve acordo para não haver retaliações ou perseguições.
"O movimento aconteceu não por culpa nossa. Fomos apenas um elo de ligação entre o comando e os manifestantes", disse.
Segundo ele, as exclusões podem gerar uma revolta maior entre os policiais. "A única coisa que nós fizemos foi mostrar que o policial estava passando fome", disse ele.
Para Washington Rodrigues, o fato de o anúncio da exclusão dos líderes ter acontecido um dia depois da troca do comando da PM em Minas é "covardia". Segundo ele, o ex-comandante agiu assim por temer a reação da tropa. O comandante assinou as exclusões no mesmo dia em que foi substituído pelo coronel Márcio Lopes Porto.

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