São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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Coréia tem pior semana pós-crash

Moeda volta a despencar

OSCAR PILAGALLO
DO ENVIADO ESPECIAL A SEUL

A moeda da Coréia do Sul (won) e a Bolsa de Valores de Seul voltaram a despencar ontem, encerrando a mais desastrosa semana desde o início da crise asiática, em julho.
O agravamento do colapso financeiro do país arrastou os mercados de câmbio e de ações da região, com exceção de Hong Kong, que esboçou recuperação.
A Bolsa coreana fechou em baixa de 7,1%, depois de ter perdido 5,6% na véspera, e atingiu o ponto mais baixo em dez anos. Desde o pico, em 94, o índice recuou 69%.
O won foi negociado no limite de baixa, mas recuperou parte das perdas em reação atribuída à intervenção do Banco Central.
A desvalorização do won neste ano já é superior a 50%, e a expectativa é de novas quedas.
"A hipótese de a cotação chegar a 2.000 wons nos próximos dias não está descartada", disse à Folha Keith Nam, diretor da corretora ABN-Amro Hoare Govett Asia.
Para ele, o maior problema é a falta de confiança dos estrangeiros. "Sem capital externo, a situação se deteriora, o que afasta ainda mais os investidores."
O tombo dos mercados em Seul ontem foi provocado pelo anúncio de que a quarta maior corretora do país, a Dondsuh, não suportou saques de milhões de dólares e encerrou as operações, o que é o primeiro passo para a falência.
A Coréia não poderá ser mais descrita como a 11ª economia do mundo, sua posição no ranking.
Medido pela taxa de câmbio atual, o Produto Interno Bruto da Coréia teria ficado em 20º lugar em 96, perto do da Argentina, segundo estimativa publicada no jornal "The Asean Wall Street Journal".
O aspecto mais preocupante da crise é a dívida externa e a ameaça que ela representa ao sistema bancário. A dívida está na casa dos US$ 120 bilhões. Calculada em wons, ela dobrou com as desvalorizações recentes.
O problema não é tanto o tamanho da dívida, mas seu perfil. Daquele total, pelo menos US$ 70 bilhões vencem a curto prazo. Para contornar a dificuldade, esses empréstimos precisariam ser renovados, exatamente o que os bancos estrangeiros não querem fazer.
Grande parte desse dinheiro foi emprestada para os conglomerados coreanos, chamados "chaebols" -30 megaempresas responsáveis por dois terços da produção industrial do país.
A precariedade do equilíbrio financeiro pode levar a quebras de instituições e empresas. Muitos bancos coreanos estão perdendo nas duas pontas da operação: não conseguem renovar empréstimos, nem receber de devedores, alguns dos quais já quebraram.
Para complicar a situação, ao honrar compromissos no exterior que não foram renegociados, os bancos coreanos são obrigados a comprar dólares, empurrando mais para baixo a cotação do won.
Estima-se que até o final do ano expirem prazos de créditos internos num total de US$ 20 bilhões. Não há esse dinheiro na praça.

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