São Paulo, sábado, 13 de dezembro de 1997
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Atuação de Stefanini marca "Caixa 2"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma atuação deixa marca, em geral, quando vence uma barreira invisível e já não se distingue ator de personagem. Não importa se naturalista ou não, se o texto é um clássico inatacável ou outra comediazinha "boulevardière", não faltam exemplos desses atores que tornam o teatro um acontecimento sem igual, naquele momento.
Fulvio Stefanini, ator de lembrança longínqua do grande público, pela TV, deixa marca em "Caixa 2", comédia de Juca de Oliveira. E seu gerente de banco, um tipo do cotidiano, no caso um homem entre frustrado e sonhador, cheio de idéias óbvias e simplórias, nem concentra a trama.
A saber, um banqueiro (Juca de Oliveira) recorre à secretária (Suzy Rêgo) como laranja num golpe, mas o dinheiro vai parar por acaso na conta da mulher do gerente (Cláudia Mello).
Stefanini faz o pobre diabo que admira o banqueiro, seu modelo de vida, é demitido por ele, é recontratado, perde as ilusões, bebe descontrolado, chora como criança, jogado de um lado para outro sem consciência do que a ação vai fazendo com sua vida.
É de longe o personagem -a interpretação- mais fascinante de "Caixa 2". Menos por seus valores éticos, que afloram no final, e mais pela ingenuidade, Roberto, o gerente, é um daqueles papéis algo míticos que fazem a delícia dos atores e do público -de que pode ser lembrada, como outro exemplo, a Olímpia de Denise Fraga, em "Trair e Coçar".
"Caixa 2" lembra "Trair e Coçar" também em sua extrema simplicidade. É uma comédia, talvez nem bem uma comédia, como quer o autor, sem vôos formais, mas eficiente. Seus personagens, do banqueiro ao filho do gerente, são bem fundados, dando chaves para os atores tirarem deles tanto quanto puderem.
E um talentoso elenco foi reunido, em torno da história simples contada em "Caixa 2".
Não apenas Fulvio Stefanini e Juca de Oliveira, este perfeito e nada moralista na cômica encarnação do "mal", mas também Claudia Mello e Petrônio Gontijo, mulher e filho de Roberto, mas em nada ingênuos como ele, ambos sempre com uma surpresa e um desrespeito diante do poder representado pelo banqueiro.
E trata-se, afinal, em "Caixa 2", de um tema bastante sério -o desrespeito a que se submetem os brasileiros comuns, diante de escândalos e escândalos.
Nada dissimulado, o texto dá nome aos bancos, aos políticos (o prefeito Celso Pitta, em especial), com uma petulância -e uma catarse em forma de vingança- que já vale o ingresso.

Peça: Caixa 2
Direção: Fauzi Arap
Com: Fulvio Stefanini, Juca de Oliveira, Cassiano Ricardo e outros
Quando: qui a sáb, às 21h; dom, às 18h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quanto: R$ 25 (qui, sex e dom) e R$ 30 (sáb)

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