São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Mais de 20 mulheres já foram atacadas

MARTA AVANCINI
ANDRÉ LOZANO

MARTA AVANCINI; ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Treze mulheres já foram à polícia e relatam fatos que indicam um mesmo grupo de maníacos

As famílias de São Paulo estão em estado de alerta. O motivo é uma nova modalidade de assalto, cujo alvo principal são as mulheres que circulam de carro sozinhas à noite pelas regiões da marginal Pinheiros, Itaim Bibi e Vila Mariana (zona sudoeste).
Desde meados de outubro, 13 mulheres já prestaram queixa à polícia contra a gangue, mas estimativa da própria polícia aponta para um número maior de vítimas, superando a marca de 20.
Os agressores geralmente agem em dupla e provocam pequenos acidentes de carro, forçando a vítima a parar. Em seguida, mantêm a vítima como refém em seu próprio carro e começam a rodar pela cidade em busca de um caixa eletrônico. No trajeto, agridem as mulheres verbal e fisicamente. Por vezes, a vítima é estuprada.
Três vítimas concordaram em relatar à Folha o que sofreram ao lado dos criminosos (leia seus depoimentos nesta página).
"Desde que começou essa onda, minha filha de 19 anos não sai mais de carro à noite sozinha", conta a psicóloga Susana Prado.
O táxi ou a carona dos amigos têm sido a solução adotada para que manter a rotina. "Existe uma ameaça, e não há muito o que fazer para combater, a não ser aumentar os cuidados e precauções", diz a psicóloga.
Alvo das preocupações da mãe, a tradutora e intérprete Daniela de Azevedo, 25, foi acordada na última quarta-feira para ser informada sobre a gangue da batida.
"Eu estava em Sorocaba, em um spa, e minha mãe me ligou para dizer que eu não parasse se alguém batesse em mim", conta Daniela.
Ela admite que o risco existe, mas acha que a vida tem de continuar. "Tomo cuidado, mas não posso deixar de viver a minha vida. Minha mãe exagerou um pouco."
O zelo dos pais não é excessivo para a estudante de administração Ana Cláudia Prudente. Seus pais não permitem que ela saia de casa sem segurança, desde que a gangue da batida começou a agir.
"Estou muito assustada. Não sei mais o que fazer para me cuidar. Ando com os vidros fechados, travo as portas, ligo para meu namorado quando chego. Só se eu me trancar em casa", diz Ana, que chegou a ser assaltada duas vezes em uma mesma semana.
Mesmo mulheres independentes, como a bancária Débora Moregola, 39, solteira, estão recebendo uma "atenção especial". "Meu irmão e minha mãe telefonam para me alertar."
A mudança de trajeto foi a estratégia adotada pela secretária Eliana Martins Tkacz, 39, para fugir da área de atuação da gangue. "Não passo mais pela marginal (Pinheiros). Não tenho hora para sair do trabalho e estou sempre sozinha."

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