São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Inversão de papéis incomoda os homens

DA REVISTA DA FOLHA

A completa inversão de papéis -elas sedutoras; eles "usados"- incomoda a maioria dos homens. "Depois de uma certa idade, o amor deixa de ser tão importante quanto o filho para as mulheres", diz o vendedor Clóvis Teixeira, 31.
Para ele, "essa coisa de produção independente ainda está no começo, restrito às formadoras de opinião, mas pode virar tendência em alguns anos". "De sexo frágil, a mulher está mudando para o sexo agressivo", diz o vendedor Clóvis Teixeira, 31, solteiro.
O securitário Paulo Neto, 37, concorda: "Aos 30 anos, as mulheres realmente começam a se desesperar. Querem casar correndo e ter filhos, porque acham que, se não for agora, não será nunca."
Neto diz que conhece uma garota que engravidou e logo depois "chutou o cara". "Nunca entraria numa dessas, porque sou prevenido. E, para garantir, nem me relaciono com mulheres dessa idade."
'Ladras de esperma'
A advogada Priscila Fonseca, 48, especialista em direito de família, criou até uma expressão para enquadrar esse tipo de mulher: "ladras de esperma".
"Infelizmente, há muitos casos. São dois tipos: as interessadas em dar o golpe do baú, que chegam a dizer que não vão interromper a gravidez porque estão com o 'reizinho na barriga', e as que estão perto do limite biológico de reprodução e arrumam um parceiro rapidamente, só para engravidar", diz Priscila, responsável por um dos mais concorridos "escritórios de divórcios" de São Paulo.
Para a psicanalista Miriam Schnaiderman, o fato de querer ser mãe sem se casar não é um problema, mas as "produtoras independentes" devem estar preparadas para enfrentar a barra sozinhas.
"Os homens que se prestam ao papel de apêndices nesse sonho de maternidade precisam ter consciência que a mulher jamais cobrará sua participação na educação da criança", diz.
Sem complexos
Contra a corrente, o administrador de empresas Carlos Fernandes, 36, teria tudo para se sentir um "reprodutor", mas não tem complexos. Doador de sêmen há cinco anos, ele diz ser um "filantropo nato". "Sempre doei sangue e fui voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida). Gosto de ajudar as pessoas", diz.
Fernandes decidiu se tornar doador depois de ver um cartaz em um hospital. "Passei por entrevista, exames e, depois de ser considerado apto, fiz um contrato para doar. Durante um ano, todos os meses, frequentei o banco de sêmen."
Ele não sabe se tem algum "filho por aí" e tem certeza de que nunca vai querer conhecer a criança.
Sua doação é voltada para casais, mas Fernandes não se importaria que fosse usada para uma "produção independente".
"Esse tipo de coisa faz parte do mundo moderno, a mulher deve ser livre para escolher o que quiser", diz o administrador.
No Brasil, o código ético do Conselho Federal de Medicina não permite aos médicos fazer inseminação artificial em solteiras. A paciente precisa provar que tem um relacionamento estável.
Casado há quatro anos com uma mulher de 40, em uma situação financeira estável, Fernandes nunca quis ter filhos.
"Temos todas as condições de criar uma criança, mas não temos vontade. A vida a dois é muito boa. Se cansarmos, um dia poderemos adotar um menino de rua", diz.
Para ele, o importante de doar esperma é saber que "está fazendo alguém feliz". Talvez Luciano Szafir pense assim.

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