São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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Palmeiras e Vasco estão ali, ó, parelhos

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há uma certa soberba no reiterado anúncio de Felipão de que o Palmeiras esta tarde/noite não exercerá uma marcação individual em Edmundo. Talvez coubesse melhor, no caso, a modéstia de reconhecer que -com raríssimas exceções- o jogador brasileiro não sabe executar essas funções tipicamente européias. Quem sabe se Amaral ainda estivesse por aqui Felipão não arriscaria tal esquema? Mas não está, assim como Galeano ficará nas tribunas, proscrito. Logo, não resta mesmo ao técnico palmeirense nada além de afiar a velha e conhecidíssima zona para tentar manter Edmundo longe da área.
Mas o diabo é que o Palmeiras, antes de mais nada, terá de chegar à área vascaína tantas vezes quantas necessárias para vencer este jogo-chave.
Como? Se tem bala para tanto? Claro que tem. Jogador por jogador, Vasco e Palmeiras estão ali, ó, parelhos. E se o Vasco tem Edmundo ungido por Pai Santana, todos os orixás e mais os deuses do Olimpo, o Palmeiras tem um grupo de jogadores mais experientes em decisões desse porte. Além do mais, joga em casa. E mais um pouco: terá esse Vasco de Edmundo e de tão sedutor futebol ofensivo, se não resistência, ao menos prática de se defender, quando atacado?
Mas essa é uma via de duas mãos, pois terá esse Palmeiras de Felipão, se não craques, que os tem, mas disposição para atacar, depois de tanto tempo só se defendendo? É o que saberemos, quando a noite cair e a bola começar a rolar.
*
Antes, vejamos esse Brasil de Zagallo enfrentando a Austrália. Pelo que se viu na estréia, quando bateu a Arábia Saudita, continua o mesmo: falho na defesa, que segue jogando em linha; penso no meio-campo, com Leonardo, na meia-direita, adernando para a esquerda, o que deixa Cafu, um centauro, domesticado lá na direita pela suprema solidão.
Para compensar, Denílson desequilibra a partir do meio-campo, e Romário confere lá na boca do gol, quando a inspiração foge de Ronaldinho, como ocorreu no jogo contra os árabes.
É claro que sempre haverá a desculpa da crônica falta de treino, o que é mais uma constatação do que uma desculpa.
Mas, se a linha de zaga pode ser costurada a partir de treinamentos específicos, duvide-o-dó que Leonardo vá cumprir ali pela meia-direita todas as tarefas que lhe cabem.
Pode até ganhar a Copa sozinho, a la Garrincha ou Maradona, por força de sua técnica privilegiada, mas nunca como resultado da lógica do futebol.
Vou além: não é só uma questão de equilíbrio tático. É pelo estilo picado de seu futebol. Por ali, até mesmo um canhoto como Rivaldo, que trabalha a bola mais compassadamente e que tem volúpia do gol, haverá de se dar melhor.
*
Juro que vi o massagista espargir óleo refinado em lugar da água santa no tornozelo esquerdo de Denílson. É que aquilo ali não tem osso nem músculos. É uma sofisticada engenhoca de rolimãs e feixes de fibra ótica, que gira em qualquer sentido, ao comando do jogador. Só temo que Denílson, dia desses, se distraia e deixe o campo com o pé virado pra trás. Como um currupira.

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