São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 1997
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O Irã tira o véu

DIEGO LEZAMA
FOTOS DIEGO LEZAMA

Houve uma época em que apenas uma cidade do Império Persa -Isfahan -era considerada "a metade do mundo". Corria o século 16, e o xá Abbas 1º se esforçava em converter Isfahan não só na capital de seu império, mas em motivo de inveja para o mundo inteiro. E conseguiu.
Hoje, mais de 400 anos depois, as mesquitas, palácios, jardins, pontes e monumentos da cidade são uma explosão de luz -de luz azul. Mas o Irã não é só Isfahan, e nem tudo é arte religiosa.
Um roteiro básico pelo país leva dez dias. O melhor é começar por Teerã e seguir para o sul, voando para as principais cidades.
A capital Teerã não é uma cidade que se destaca pela beleza, mas são necessários pelo menos dois dias para visitar seus museus -entre eles, o Nacional, o do Vidro, o das Tapeçarias e o palácio do Xá. Nos seus arredores, você vê o mausoléu onde está o aiatolá Khomeini, morto em 1989 e enterrado por uma multidão de 10 milhões de pessoas. A grande cúpula, os minaretes dourados e o número impressionante de visitantes aconselham uma parada.
Depois, siga para Isfahan, onde há a maior concentração de construções islâmicas do país -a maioria revestida de azulejos azuis. Importante ponto de comércio, é um ótimo lugar para se perder nos mercados e jardins ou para conhecer de perto a cultura persa. A Praça Real, no centro da cidade, foi tombada como patrimônio mundial da Unesco e reúne mesquitas, palácios, pórticos e um enorme mercado de artesanato.
Em Shiraz, além de visitar palácios e ruínas do século 4 e os jardins da cidade, aproveite para comprar os famosos tapetes e doces, que são vendidos para o resto do país. Fique pelo menos três dias, para poder visitar os arredores, onde estão as ruínas das cidades de Persépolis e Pasárgada.
Persépolis (centro) é um dever. Um dos sítios arqueológicos mais impressionantes do Oriente Médio, reúne os restos do vasto e majestoso complexo de palácios, cuja construção foi iniciada por Dario 1º, o Grande, lá pelo ano 521 a.C.. A cidade foi queimada, dois séculos depois, por Alexandre Magno, que se vingava do ataque a Atenas durante o apogeu do Império Persa.
A viagem não estará completa se não incluir o mar Cáspio, de onde vêm os mais caros caviares do planeta. É a Riviera iraniana, onde as mulheres se banham em locais especiais, separadas dos homens.
Se tiver mais tempo, inclua Yazd. A mesquita da Sexta-Feira, os templos do fogo e as torres do silêncio da religião zoroastra, a prisão onde ficou Alexandre Magno e suas paredes antigas construídas em adobe -tijolo feito de argila crua e secado ao sol- são as atrações da cidade.
E Hamadan, onde poderá visitar o mausoléu de Avicena, um dos grandes e primeiros médicos e filósofos conhecidos pelo Ocidente, e ver inscrições feitas sobre a rocha de Dario 1º e Xerxes, imperadores da Pérsia. Além da presença de belas mesquitas e mercados movimentados.
Dicas
O Irã é sempre seco, e a melhor época para visitá-lo é entre outubro e maio. As festas religiosas mais importantes -o Radamã, o aniversário do martírio do Imã Reza e o aniversário do nascimento de Maomé- são celebradas em datas variáveis, pelas diferenças entre o calendário muçulmano e o usado no Ocidente.
A elas se unem outras festas pagãs, como o ano novo iraniano, o No Ruz, de 21 a 24 de março, e o aniversário do triunfo da revolução islâmica, em 1º de abril. Nas festas, é sempre mais difícil conseguir acomodações, pelo fluxo de turismo interno.
O Irã não se destaca pela variedade da sua gastronomia, similar à de outros países da região. O prato típico é o "kabab", espetinho de carne de vaca, cordeiro ou frango, assado na brasa e acompanhado de arroz. Muitos locais só servem esse prato. O "kuku" é uma espécie de tortilha feita com uma mistura de ovos, vegetais e ervas aromáticas, e os "kufteh" são almôndegas de carne com especiarias e verduras. Uma das delícias iranianas é o pão (nam), servido recém-saído do forno nos restaurantes.
O famoso caviar iraniano (de esturjão) só pode ser comprado nas lojas do aeroporto de Teerã ou no mercado negro do mar Cáspio. Nos restaurantes, contente-se com as ovas de outros peixes, que os iranianos salgam para temperar o arroz. De sobremesa, o sorvete de açafrão é muito bom, mas difícil de encontrar.
Para beber, esqueça o álcool, proibido e reprimido com açoitamento. A "cerveja" iraniana é feita de malte doce, e o "abduj" é uma bebida feita com iogurte e água, mas a bebida nacional é o chá. A água é potável, mas é melhor beber água mineral. Já, em Teerã, pedi-la é quase ofensa: eles acreditam ter a melhor água do mundo, porque vem da montanha.
Nem álcool, nem saídas à noite enquanto estiver no Irã. Não há espetáculos noturnos, nem lugares que abrem até tarde para você tomar chá, salvo raras exceções. Uma delas é a casa de chá do Sahel Hotel, em Isfahan. Ali servem comidas a qualquer hora, com música iraniana ao fundo.
Se quiser comprar produtos genuinamente iranianos, encontrará dois: tapeçaria e caviar. As tapeçarias são maravilhas, com preços que variam segundo a matéria-prima (seda ou lã), o número de nós por centímetro e como foram elaboradas (artesanal ou industrialmente). Sobre as ovas de esturjão, é melhor esperar pelo "duty free" do aeroporto.
É possível também comprar outros objetos a preços muito bons: pistaches, cerâmicas, mantas de Isfahan, miniaturas em osso de camelo e todo tipo de marchetaria.
A roupa para as turistas não é um detalhe casual. Ao pisar em solo iraniano, as mulheres devem cobrir o cabelo e vestir um vestido até os pés que não marque as curvas do corpo. O chador -pano negro que envolve diversas mulheres iranianas da cabeça aos pés- não é obrigatório. Os homens devem evitar as calças curtas.
Tirar o visto não é fácil. Se você tem o passaporte com um carimbo de Israel, pode esquecer. O Irã não tem representação em São Paulo, e a melhor opção é fazer o pedido de visto via alguma agência de turismo especializada em Oriente Médio.
Desde que você respeite as leis muçulmanas -de que roupas usar até não tirar fotos de lugares proibidos-, está tudo bem. Mulheres sozinhas têm de redobrar os cuidados com o comportamento e a maneira de se vestir. Não responder a gracinhas é uma dica útil nesses países. Na verdade, as hostilidades em relação aos turistas não acontecem.
Histórico
O povoamento do Irã começou há mais de 3.000 anos, quando indo-germânicos migraram do Oriente para a região. Junto com a Mesopotâmia (atual Iraque), foi um dos maiores e mais importantes impérios orientais. O Império Persa foi construído por volta de 539 a.C. e sob o governo de Dario 1º (521 a 486 a.C.) alcançou suas maiores proporções: do mar Negro ao Cáspio, do golfo pérsico ao oceano índico.
Uma idéia da importância de sua produção cultural foi dada por Alexandre, o Grande. Vindo da Macedônia para expandir a cultura greco-helênica, invadiu a capital do império - Persépolis - e a queimou. Antes, fez com que as obras de sua biblioteca fosse traduzida para o grego.
O xá Reza Pahlevi fundou sua própria dinastia em 1926. A partir daí, o petróleo ganhou extrema importância. Na Segunda Guerra, o Irã tomou posição oficial de neutralidade. O governo de Pahlevi era visto como altamente repressivo.
Líder dos opositores ao xá, o aiatolá Khomeini assumiu o poder em fevereiro de 79 e fundou o primeiro estado islâmico do mundo moderno, a República do Irã. Depois de enfrentar oito anos de guerra contra o Iraque (80-88), morreu em 89. Foi eleito presidente o porta-voz do parlamento iraniano, prometendo reformas.

SERVIÇO - Pela British Airways (tel. 0800-996926), mínimo de 7 dias de permanência e máxima de 3 meses; com conexão em Londres, na Inglaterra. Para partida entre 15/12 e 13/1, custa US$ 1.954; entre 14/1 e 31/1, sai por US$ 1.776. Pela Middle East Airlines (tel. 287-3022), com conexão em Beirute, no Líbano, sai por US$ 1.824, a partir de 14/12. Pela Lufthansa (tel. 3048-5868) a tarifa sai US$ 1.935, com conexão em Frankfurt, na Alemanha.

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