São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Amigas, torcidas têm jogo de risco zero

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

A amizade entre as organizadas do Palmeiras e do Vasco da Gama fez com que a partida de ontem fosse "risco zero". Torcedores vascaínos eram recebidos como heróis ao chegar ao Morumbi, e grupos de palmeirenses eram saudados com festa quando passavam pelo local onde estavam os rivais.
Mas o ato que deveria ser o ápice das demonstrações de irmandade da semana passada furou. O churrasco que integrantes da extinta Mancha Verde prometeu oferecer a sua "organizada-irmã" do Rio, a Força Jovem, não aconteceu por causa de um desencontro.
A torcida carioca saiu mais cedo especialmente para a festa, mas pelo menos 2 dos 12 ônibus fretados se perderam do comboio, e, na entrada de São Paulo, a Polícia Militar exigiu que a Força fosse diretamente para o estádio.
O resultado foi um grande grupo de vascaínos na região do Morumbi, seis horas antes do início da partida, reclamando da distância do local onde ocorreria a festa com a Mancha (o estádio fica na zona sul de São Paulo, e a festa aconteceria na zona oeste).
Almoço
Em vez de churrasco e cerveja, eles tiveram de se contentar com cachorro-quente, sanduíches de pernil e calabresa e refrigerante. E todos procuraram a sombra.
Até as 15h, quando os palmeirenses começaram a chegar em maior número, os visitantes eram vistos deitados ao longo dos muros da lateral direita do estádio.
Muitos não conseguiam esconder o tédio. Alguns pararam para ver o desembarque de dez cavalos da tropa de choque que chegaram em um caminhão. Outros dormiam no chão.
O estudante Bruno Carvalho, 21, saiu de Vila Velha, no Espírito Santo, às 12h45 de sábado. Às 19h, estava no Rio. Os ônibus da Força partiram às 3h da manhã de ontem. Carvalho é o chefe da divisão capixaba da organizada, ou da "família", denominação que a torcida dá às suas diversas facções.
Segundo ele, em todo o Brasil são 51. A paulista é a 23ª, e a do ES, a 27ª. Carvalho afirmar ter 600 associados e reivindica para a sua "família" o título de dona da maior bandeira do Brasil (2.200 m², segundo ele).
O esquema armado pela polícia foi grande e, segundo o comando da PM, não houve alteração por causa da afinidade entre as torcidas. Mas os 400 policiais que patrulhavam o lado de fora do estádio -contra apenas cem dos jogos da temporada normal- não tiveram trabalho.
Até o início da partida, às 18h, apenas ocorrências sem importância haviam sido registradas: 3 homens alcoolizados, 4 cambistas, 5 menores de idade vendendo bebidas ilegalmente e 21 guardadores de carros.
"A calma das torcidas está me surpreendendo", disse o coronel Vicente, comandante do 2º Batalhão de Choque, que faz o policiamento dos estádios na capital.
Ainda sim, vascaínos e palmeirenses acharam motivos para protestar.
Os primeiros não puderam entrar na arquibancada com uma bandeira sem mastro. "Aqui em São Paulo tem de vir com terno e gravata para torcer", foi um dos comentários ouvidos sobre a proibição de uniformes de organizadas, que vigora no Estado.
E todos os torcedores da equipe paulista que pintaram o rosto de verde tiveram de lavá-lo antes de passar pelas catracas do Morumbi. A polícia disse que a pintura poderia prejudicar uma eventual identificação nas fitas de vídeo que estavam sendo gravadas.
Nem a presença dos "irmãos" do Rio nem o "renascimento" previsto para domingo sob o nome de Mancha Alviverde fizeram com que a ex-maior organizada do Palmeiras aparecesse. Poucas camisas da Mancha eram vistas.
O único sinal era um panfleto que estava sendo distribuído ao redor do estádio convocando os palmeirenses ao Maracanã para o último jogo do Brasileiro.
E os gritos de guerra da torcida, que só eram ouvidos quando havia nas proximidades câmeras de TV e fotógrafos.

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