São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Adolescência de 15 min

GUSTAVO IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estes dias, já andava quase olhando os meus papéis da aposentadoria. Porque, vou te contar, 20 anos hoje em dia é uma idade avançada. Está tudo tão rápido, você fica perdido. Veja que, nos meus poucos anos de vida, vi nascerem ou vir à luz o vídeo game, fax, Internet, microondas, videocassete e, mais confuso ainda, drag queens, Aids, assédio sexual, impeachment, queda do muro de Berlim, clonagem...
E na dianteira de todas essas novidades estamos nós, jovens. Mas tudo tem o seu preço.
Pra nós, foi acabar com o que se conhecia por juventude. Na época dos nossos pais, eles nasciam e eram paparicados por todo mundo por uns 15 anos, até poder atravessar a rua sozinhos. Agora, quando o fedelho já conseguir andar podes crer que vai haver algum parente pedindo pra ensinar a usar a Internet. Neste mundo de revoluções rápidas, precocidade é quase uma questão de sobrevivência.
Olhe à sua volta. Pesquisas têm mostrado que a iniciação sexual de uma parcela considerável de adolescentes tem acontecido lá pelos 11, 12 anos. Não sei se é recalque ou se há algo de errado mesmo, mas na minha época o mais próximo que havia de sexo nessa idade era a Barbie da irmã.
Aqui nos EUA, inclusive, está rolando o caso de um aluno da 6ª série que, digamos, deixou de ir pro recreio e foi brincar -de médico- com a professora. O Ricardão de um metro e meio engravidou a "tia" e instituiu o lema dessa geração: "Não confie em ninguém com mais de dez anos".
Temos, também, o lado mais sombrio. Muitos dos réus dos crimes mais hediondos são jovens. Talvez o caso mais impressionante seja o de adolescentes que mataram seus filhos indesejados: um casal jogou no lixo de um motel, outro, no vaso de um banheiro. O que vem mexendo mais com a cabeça local é a história da babá inglesa de 19 anos que teria matado um bebê de 9 meses. Louise foi condenada pelo júri, apesar da falta de provas. Sua condenação à prisão perpétua -com possibilidade de liberdade condicional após 15 anos- causou uma comoção geral.
Dias depois do veredicto, o juiz anulou a sentença e diminuiu a condenação, livrando Louise da cana. Não se sabe com certeza o que levou o juiz (quase fossilizado com seus 60 anos) a essa decisão corajosa, mas é de imaginar que se tenha dado conta de que não dava pra libertar a babá aos 34 anos, já caquética. Não entenderia nada deste mundo mutante. Afinal, não seria de todo surpreendente se, em 2012, o presidente da República fosse um vivido, maduro senhor de seus 4 anos.

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