São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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O escultor de cidades e grandes espaços

FÁBIO MAGALHÃES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Como algumas gerações, a minha se inspirou na precedente, que pretendia reconstruir um mundo novo, diferente do destruído pela Segunda Guerra. No final dos anos 50, buscávamos em Sérgio Milliet, Mário Pedrosa e Caio Prado os caminhos da nossa formação. Mas era Oscar Niemeyer quem nos fazia sonhar com a modernidade e com a possibilidade de edificar um país mais justo e solidário.
As construções da nova capital surgiam em meio ao nada. Num imenso planalto desabitado projetava-se uma cidade que impressionava o mundo. A dinâmica do canteiro de obras, a beleza das edificações, a avançada tecnologia da construção davam-nos a ilusão de um Brasil caminhando para o primeiro mundo. Niemeyer encarnava a modernidade.
Hoje Niemeyer completa 90 anos. Poucos chegam até essa idade tão produtivos e ideologicamente coerentes como ele. Universalmente reconhecido, mantém-se fiel aos princípios socialistas. Embora o Brasil ainda possua uma das sociedades mais verticais e injustas do planeta, a obra de Niemeyer se inscreve como uma das mais arrojadas e significativas do século.
Anos antes de construir Brasília, surpreendia-nos com a Pampulha. Os edifícios eram dotados de inusitada e revolucionária plasticidade. As linhas curvas, dominantes, davam beleza e sensualidade aos espaços. Os prédios harmonizavam-se com a paisagem. As novas formas criadas pelo arquiteto impunham soluções estruturais inovadoras. Joaquim Cardoso, calculista e poeta, torna-se parceiro ideal. As soluções plásticas de Niemeyer, a partir de Pampulha, provocam um salto qualitativo na arquitetura e na construção de concreto brasileiras. Suas obras abrem espaços para outros artistas se manifestarem -Portinari, Athos Bulcão e Alfredo Ceschiati.
Não raro, historiadores e críticos chamam a atenção para a beleza formal e os aspectos escultóricos da obra. Niemeyer nos lembra os grandes mestres da cultura deste século como Constantin Brancusi, Henri Moore e Jean Arp. Ele se expressa melhor em obras de grande escala como a Pampulha, Ibirapuera, Brasília e o Memorial.
No Memorial, o espetáculo da arquitetura se dá em sua plenitude. Tenho o privilégio de me defrontar, todos os dias, com sua arquitetura. Verificar as mudanças provocadas pela luz do sol na superfície branca e com as alterações de tons. São os azuis que iluminam as manhãs, enquanto os rosas invadem o entardecer.

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