São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 1997
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Cidade faz das compras uma festa de gala

SUSAN ALLEN TOTH
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Quero estar em Londres quando os coros de aleluia flutuarem em direção às espirais de pedra escura das igrejas, as luzes brancas do gigantesco pinheiro norueguês da praça Trafalgar começarem a brilhar e a "feira gelada" da Queen's House (Greenwich) lembrar a época em que o Tâmisa congelava regularmente. No começo de dezembro, quando os shoppings norte-americanos estão zunindo, frenética e incessantemente, no seu tom mais alto, abrimos nossa temporada com 12 dias de gala em Londres.
O Natal começa cedo em Londres. No ano passado, ao chegarmos à cidade no dia 2 de dezembro, poderíamos ter assistido a uma palestra e a um concerto sobre anjos medievais, ou ainda ido a uma exposição de árvores de Natal decoradas por designeres, ou à recriação de uma casa londrina do período da grande nevasca de 1836, ou a uma exibição de presentes e brinquedos de Natal no Museu da Infância Bethnal Green -algumas das muitas possibilidades tentadoras desse dia que dançavam a nossa frente.
Mas a diferença de fuso horário nos jogou diretamente na cama.
No dia seguinte, reavivados por rápidas caminhadas e fortificados por muito chá e bolinhos de aveia, começamos a entrar no espírito.
Observamos centenas de candelabros tremulando nas sombras da abadia de Westminster durante um serviço vespertino.
Numa tarde chuvosa, mergulhamos entre pirâmides de poinsétias e pilares de hera na exibição de Natal da Sociedade Real de Horticultura. Noutro dia, depois de almoçar torradas com uma mistura de queijos derretidos na Fortnum & Mason, descemos rumo a um pequeno teatro improvisado num porão da elegante rua Jermyn, para escutar a Companhia Profissional de Atores Richmond ler entusiasticamente trechos de Dickens, Dylan Thomas, John Betjeman e outros, além de fazer-nos uma serenata com canções natalinas.
As apresentações de Natal para famílias já estavam a todo vapor. Numa tarde, sentados entre avôs e crianças a cochichar, assistimos às encantadoras apresentações do Le Cirque Invisible (o circo invisível), uma dupla circense francesa.
No fim de uma das cenas, Victoria Chaplin transformou-se numa banda de uma mulher só, rodando pelo palco com uma bandeja de copos na cabeça, batucando um coador de metal e tirando sons de vários pedaços da elaborada geringonça dentro da qual estava encapsulada. De saltar aos olhos de estranho, também foi inesperadamente alegre.
Depois, engolimos uma refeição e caminhamos até Santa Ana e Santa Agnes, igrejinha de Christopher Wren, que, restaurada, é uma das muitas da City que frequentemente abrigam concertos.
Naquela noite, o Elysian Singers e o City of London Chamber Players apresentaram as "Vesperais Natalinas", de Monteverdi. Violinos, tiorba (uma espécie de alaúde) e órgão acompanharam os jovens cantores, selecionados dos coros de Oxford e Cambridge.
O organista, de rosto improvavelmente jovem e com um brinco de ouro, dançava junto com a música. No intervalo, uma mulher de cabelos brancos sentada ao meu lado confidenciou: "Essa música faz minha espinha formigar".
Muitas organizações realizam espetáculos de gala para levantar fundos no início da temporada.
Canção de guarda
No dia seguinte a nossa chegada, vi um pôster anunciando "Scarlet and Gold: Massed Bands of the Househols", com bandas dos regimentos de guarda, no Royal Festival Hall, em benefício da Cavalaria da Guarda e do Museu dos Guardas. O que, pensei, pode soar mais festivo do que sete bandas, entre elas a Gaitas e Tambores, dos Guardas Irlandeses, e o Corpo de Tambores, dos Guardas Galeses, tocando juntas.
Enquanto comprava os últimos ingressos, não havia me dado conta que estaria sentada com a rainha, o príncipe Philip e o príncipe Andrew empoleirados bem acima de nós no camarote real.
Aplaudimos juntos os jovens, resplandecentes nos uniformes escarlate e dourado e chapéus de pele de urso, com miniaturas da bandeira britânica nos trompetes.
Apesar da multidão dos feriados de fim de ano, muitos locais turísticos estavam vazios.
No fim da tarde, às vezes saracoteávamos pela National Gallery, onde podíamos ficar indefinidamente diante de desenhos de Leonardo da Vinci e do "Casamento dos Arnolfini", de Van Eyck.
Saindo da National Gallery, geralmente nos víamos na rua Regent, onde espiávamos as vitrinas a brilhar com pudins de Natal envoltos em dourado, chocolates e garrafas cintilantes de xerez.
Muitos restaurantes tinham cardápios especiais nas suas janelas. No Pierre Victoire, que faz parte de uma cadeia de bistrôs, nos deleitamos com uma refeição de três pratos por US$ 20: um saboroso consomê de pato, seguido por peru com recheio de salva e cebola e uma fatia de pudim de Natal.

Tradução de Claudio Garon

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