São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997
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Nota da TAM contradiz laudo de acidente

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A TAM divulgou ontem a primeira nota oficial a respeito do relatório final sobre o vôo 402 e evitou referências às exigências feitas pela Aeronáutica a respeito do treinamento de seus pilotos. Ninguém da empresa deu entrevistas.
Um Fokker-100 da TAM caiu em São Paulo no dia 31 de outubro do ano passado, matando 99 pessoas. O laudo final sobre o acidente, divulgado semana passada, traz oito exigências à empresa aérea, quatro delas referentes a treinamento.
Duas das exigências são para que a empresa reforce procedimentos de treinamento que já eram obrigatórios à época do acidente.
"O relatório não estabelece nenhuma relação entre o defeito do reverso e a manutenção do equipamento, nem, tampouco, com o treinamento de pilotos", diz a nota da empresa.
O relatório da Aeronáutica diz que dois procedimentos adotados pelos pilotos contribuíram para o acidente, mas afirma que os tripulantes foram induzidos por defeitos da aeronave a agir dessa forma.
Segundo o relatório, uma das principais falhas que contribuíram para o acidente foi uma modificação no projeto da aeronave que aumentou a possibilidade de falha a um ponto abaixo do que permite a lei.
Sandra Assali, presidente da Abrapavaa (Associação Brasileira dos Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos) e viúva de um passageiro morto no vôo 402, disse que vê "deficiência no treinamento da TAM" e afirmou que a nota da empresa não trouxe novidades.
A nota da TAM traz ainda uma incorreção conceitual. Na introdução, a empresa escreve que o relatório mostrou que "a TAM não teve culpa no acidente".
Na verdade, como costumam repetir os investigadores da Aeronáutica, o relatório não tem por objetivo apontar ou isentar de culpa ou responsabilidade, mas sim acusar as falhas ocorridas em um acidente e exigir atitudes que evitem a repetição de tais erros.
A empresa contradiz o laudo ainda ao afirmar que "a tripulação tomou as providências que eram recomendadas para o tipo de alerta anunciado".
A respeito disso, o relatório cita em duas passagens que, "doutrinariamente, qualquer ação de uma tripulação frente a qualquer anormalidade no ambiente da cabine de comando de vôo, abaixo de 400 pés, é não recomendável".
Na ocasião do acidente, a aeronave não passou dos 130 pés de altura. Apesar disso, os pilotos atuaram sobre os controles dos motores. Segundo o coronel Douglas Ferreira Machado, chefe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Aeronáutica, se a tripulação não atuasse, o avião decolaria.

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