São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 1997 |
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Jamaica será a Cinderela da Copa da França
RENÊ SIMÕES
Os jamaicanos aprenderam a sonhar. Quando cheguei, eles tinham medo de derrotas, medo de sofrimento. Lembro de um amistoso que fizemos contra a Ponte Preta. O primeiro tempo acabou 0 a 0, e vieram me dizer: "Você tem um time muito bom nas mãos". Aí, tomamos um gol aos 2min do segundo tempo. O jogo acabou 5 a 0. Os jogadores desistiam. Agora, tudo mudou. Quando cheguei, os jogadores jamaicanos eram focas. Sozinhos, sabiam fazer tudo com a bola, mas duas focas juntas não conseguem jogar. Depois, passamos para um esquema mais profissional. Os jogadores não podiam viver só de futebol, então tínhamos barman, motoristas de táxi e carregador de malas na equipe. Hoje, todos têm salário e só jogam partidas por seus clubes quando a seleção os libera. O sonho número um nós já conquistamos. Agora, é partir para o número dois, que é conquistar o título. É claro que é muito difícil, e eu digo que é uma chance em 1 milhão. Mas é uma chance, e não podemos abaixar a cabeça. Quando eu disse isso após garantir a vaga, me chamaram de louco, lá na Jamaica e aqui no Brasil. Nada é impossível, mas dá para dizer que é no mínimo muito, muito difícil. Vamos jogar contra forças importantes, como a Croácia, que chegou à final da Eurocopa, em 1996, e tem um dos principais artilheiros da Europa, o Suker, do Real Madrid. Depois, temos a Argentina, que é bicampeã do Mundo, e o Japão, que tem um futebol profissional já estabelecido e muito à frente do jamaicano. Hoje, a classificação do grupo é: Argentina em primeiro lugar, Croácia em segundo, Japão em terceiro e Jamaica em quarto. Só que, pelo que pude saber das preparações dessas e de outras seleções, elas não devem ter mais de dez partidas até a Copa. Nós teremos pelo menos 25 e, com isso, vamos tentar diminuir a distância em relação às outras equipes do nosso grupo, como fizemos nas eliminatórias para a França. Uma dessas partidas vai ser contra a seleção brasileira, no dia 3 de fevereiro, pela Copa de Ouro, o que para muitos dos jogadores já é um sonho. A Jamaica é e sempre foi uma torcida brasileira fantástica. A Jamaica é a Cinderela da Copa. Só espero que a meia-noite demore para chegar e a gente não vire abóbora muito cedo. * Acho que Zagallo tem de tomar cuidado na Copa. É claro que o Brasil é amplo favorito para vencer seu grupo. Marrocos não deve oferecer problemas, mas o futebol da Escócia, como o de todo o Reino Unido, está mudando. Eles não jogam mais apenas por canais, levantando a bola sobre a área. E a Noruega, com quem a Jamaica empatou em 1 a 1, tem um time muito alto, que é perigoso nos cabeceios e, com a bola baixa, é muito rápida. O Brasil precisa olhar bem para esse time. Texto Anterior: STJD 'ajudou' Palmeiras em 94 Próximo Texto: Acústico Índice |
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