São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Cresce o capital estrangeiro no país

MAURO ARBEX
DA REPORTAGEM LOCAL

O capital estrangeiro, principalmente europeu, vai continuar a aumentar a sua participação no setor de supermercados do Brasil nos próximos anos.
O grande potencial de consumo no país, reforçado pela estabilidade econômica, e as condições favoráveis para investimentos em novas lojas são os principais atrativos para as redes estrangeiras, na opinião de especialistas do setor consultados pela Folha.
A compra de 50% das ações do Eldorado pelo francês Carrefour e a venda do Supermercados Sé para o grupo português Jerônimo Martins -negócios anunciados anteontem-, fazem parte desse processo.
"O Brasil já foi eleito por grupos europeus como um mercado-alvo para a expansão internacional", afirma Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da Gouvêa de Souza & MD, consultoria especializada na área de varejo.
Essas redes, segundo ele, estão buscando o caminho da concentração como forma de enfrentar um mercado cada vez mais competitivo, como é o caso europeu.
Hoje, conforme dados levantados pela consultoria, cerca de 42% do faturamento das 20 maiores redes de supermercados do Brasil está concentrado em empresas com algum tipo de participação estrangeira.
Esse percentual tende a crescer bastante nos próximos anos. No ano 2000, conforme Gouvêa de Souza, deve representar 50% do total e até 2005 perto de 75%.
A concentração das redes no exterior já é grande. Na Inglaterra, por exemplo, os cinco maiores grupos são responsáveis por 54% das vendas totais; na França, os seis maiores, por 45%; e nos Estados Unidos, os dez principais, por 39%.
No Brasil, conforme a consultoria, as 20 grandes redes respondem por 41% das vendas totais.
Para Nelson Barrizzelli, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP) e consultor na área de varejo, a expansão das redes européias e norte-americanas para fora de seus países de origem é um fenômeno dos anos 90.
"Com a estagnação de seu mercado consumidor, esses grupos procuraram outras opções de crescimento", diz. Isso ocorreu com mais força na Europa do que nos Estados Unidos, que ainda têm um mercado com bom potencial de consumo.
Segundo Barrizzelli, o Brasil apresenta um melhor retorno sobre o investimento realizado e os preços de ativos, como prédios e equipamentos, são menores do que em outros países.
"Essas empresas de fora também conseguem financiamentos com prazos longos e juros baixos, o que facilita os investimentos, e quase não existem barreiras para a entrada no Brasil", afirma o professor.
"Vamos assistir nos próximos anos uma série de fusões e aquisições de empresas", afirma.
Para ganhar eficiência, diz Assaf, as redes terão, necessariamente, de reduzir os gastos administrativos e elevar o faturamento das lojas. Uma das formas de conseguir isso será a venda a grupos estrangeiros.
O coordenador do Programa de Administração de Varejo (Provar), da USP, Cláudio Felisoni De Ângelo, lembra outra razão que está trazendo os grupos europeus ao Brasil: a legislação interna de alguns países, que proíbe a abertura de novas lojas.
O capital nacional no setor ainda deve permanecer majoritário por um período grande, na opinião de Felisoni. Além do Carrefour, francês, entraram até agora no Brasil os grupos portugueses Jerônimo Martins e o Sonai, que adquiriu este ano 100% dos Supermercados Real, no sul do país.

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