São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 1997
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Clinton estuda separar os sexos nas Forças Armadas

Comissão pede separação por causa de denúncias de abuso

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos EUA, Bill Clinton, disse ontem que vai "considerar" a sugestão feita por um comitê especial para separar homens e mulheres em casernas diferentes durante o seu treinamento e na maior parte dos serviços nas Forças Armadas do país.
Mas Clinton disse que não irá aceitar nenhuma proposta que "diminua a chance de as mulheres avançarem no serviço militar".
O secretário da Defesa, William Cohen, constituiu em agosto uma comissão liderada pela ex-senadora Nancy Kassebaum Baker para estudar as relações entre homens e mulheres nas Forças Armadas, após denúncias de abusos de instrutores contra mulheres. Após ter entrevistado 1.000 recrutas e 500 instrutores, a comissão divulgou ontem as suas conclusões.
Disse que os recentes escândalos sexuais instituíram na prática uma situação de "não fale e não toque" entre homens e mulheres que tem prejudicado o treinamento e o trabalho das Forças Armadas.
Para evitar acusações de assédio sexual, instrutores homens têm se recusado a conversar com recrutas mulheres sem a presença de testemunhas. A comissão recomenda que instrutores só tenham recrutas do mesmo sexo de agora em diante e que eles também sejam responsáveis por seus subordinados em casernas segregadas por sexo.
Cerca de 14% do 1,5 milhão de militares das Forças Armadas dos EUA são mulheres. Em 1972, eram 2%. A questão da oportunidade para mulheres servirem e progredirem nas Forças Armadas foi um dos temas militares de maior importância nos últimos 30 anos.
Uma das líderes do movimento pela igualdade entre homens e mulheres nas Forças Armadas, a general da reserva Evelyn Foote, criticou com dureza as conclusões do relatório: "Separar homens e mulheres é dar um passo atrás. A melhor maneira de homens e mulheres aprenderem a trabalhar juntos é fazer isso desde o primeiro dia. À medida em que eles treinam juntos, adquirem maior confiança uns nos outros e são capazes de apreciar melhor as diferenças que há entre eles."
O secretário Cohen deu 90 dias a cada uma das forças para se manifestarem sobre o relatório antes de tomar qualquer decisão. Os marines (fuzileiros navais) são a única força que treina homens e mulheres separadamente hoje. Sua experiência foi considerada exemplar pela comissão.
O relatório recomenda ainda que todas as menores unidades em cada força -pelotão (Exército), divisão (Marinha) e esquadrilha (Aeronáutica)- também sejam constituídas por gênero para todas as suas atividades. A general Foote classificou a sugestão de "especialmente danosa" para a mulher.
Para que suas propostas sejam efetivadas, a comissão pede a contratação de maior número de instrutoras femininas e aumento no orçamento das atividades de treinamento (cortado em 22% desde 1991). A comissão também pede que se enfatize mais no treinamento dos recrutas homens valores de respeito às mulheres.

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