São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Mãe perde filho e 'adota' soropositivos

DA SUCURSAL DO RIO

Quando descobriu que seu filho Rachid estava contaminado pelo HIV, a dona-de-casa Alaíde Elias da Silva teve que aprender a cuidar de uma criança soropositiva.
Para aliviar a dor do garoto, constantemente afetado por infecções oportunistas, contava histórias e inventava brincadeiras.
Alaíde participava de seminários e acompanhava as descobertas científicas sobre a doença.
Rachid, contaminado numa transfusão de sangue, morreu sete anos depois, aos 8 anos de idade, em 1993.
"Eu dizia a ele: 'Viva, meu filho, viva'. Quando ele morreu, resolvi continuar dizendo a mesma coisa, mas cuidando de outras crianças", conta Alaíde.
Em homenagem ao filho, ela criou em Pernambuco o grupo Viva Rachid, inspirado no Viva Cazuza, criado no Rio por Lucinha Araújo, mãe do compositor, para atender crianças com HIV.
"Acho que é um nome feliz, porque o 'viva' é aplauso, mas é também um pedido de sobrevivência, de vida, que o meu filho atendeu durante algum tempo, e que eu faço a outras crianças", afirma.
Sozinha, Alaíde começou a visitar crianças pobres soropositivas ou filhas de soropositivos na periferia de Recife.
Ensinava às famílias o que aprendera com o filho e coletava alimentos e remédios para as crianças.
Mais tarde, conseguiu ajuda de duas psicólogas e de uma assistente social e ganhou uma kombi em uma doação.
O Viva Rachid cresceu e ganhou apoio do Ministério da Saúde e do Unicef, fundo das Nações Unidas para a infância e a adolescência.
Atende hoje 75 crianças. Não mantém uma casa de apoio, mas faz atendimento itinerante. É considerado um projeto modelo, porque não retira as crianças de suas comunidades.
Alaíde está escrevendo um livro contando a experiência de viver com uma criança com HIV. Tenta também um convênio com uma universidade em Pernambuco, para que estagiários possam prestar serviço voluntário ao projeto.
"O projeto preencheu um vazio na minha vida. É alívio e dor, porque eu vejo Rachid em cada criança, mas vejo que não é ele. Como sei que ele não volta, tento ajudar quem está vivo."

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