São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Unibanco tenta matar Bucicleide do coração

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Por estranho que possa parecer, tenho tido saudades da Bucicleide. Eu sei, eu sei. Ela não me adiciona nada. Filme sueco adiciona, documentário sobre gnu adiciona, sermão de ecologista também adiciona.
Ou seja: tudo que é chato para dedéu adiciona. Mas, como não sou nenhuma biblioteca de Alexandria, concedo que Buci, digo Cleide, ao menos salpica alguma pimenta-malagueta em minha insossa existência enquanto datilógrafa.
Minha dinâmica e sumida amiga ressuscitou no terceiro dia da semana passada, disparando a campainha de minha modestíssima casinha de pombo no Itaim. Nunca entendi qual o artifício que ela utiliza para convencer seu Sebastião, meu zeloso porteiro e rottweiller, a deixá-la subir sem ser anunciada. Mas o "fish eye" da porta não mente. Lá estava Bucicleide em ritmo de tchan.
"Olha, só, Barbara!", gritou, sacudindo um pedaço de papel. "Dá uma lida neste telegrama!" Dei. No cabeçalho, constava um "urgente" em maiúsculas. Abaixo, a mensagem telegráfica: "Sra. Bucicleide compareça a nossa agência temos boas notícias procure Sandra ou Goretti". Huuummm...
"Tenho conta no Unibanco da Pedroso de Moraes, sim!", urrou minha amigona. "E sabe o que mais eu tenho lá? Tenho um Plim! Sacou? Um Plim!"
Enquanto tratava de remover Buci e suas botas enlameadas de cima do móvel da copa, fui procurando me inteirar do que vem a ser Plim. Descobri que se trata de uma poupança premiada, que distribui até R$ 500 mil alfaces.
Próxima parada: uma farta distribuição de cotoveladas e consegui arrancar o telegrama das patas de Buci. De fato, tudo indicava que ela havia tirado a sorte grande. "Telegrama é coisa séria", pensei. E, expedita como só eu, peguei o telefone e liguei para Sandra ou Goretti, antes que Buci tivesse a chance de dizer: "loteria federal". Fui informada de que ela havia sido agraciada com "uma reposição automática de cheque". Sandra ou Goretti nada sabiam sobre o Plim.
Três copos d'água com açúcar e Tatuzinho depois, Buci ergueu a faca de pão que estava sobre a mesa e esbravejou: "E se, por acaso, eu usasse marcapasso? E se eu estivesse com viagem marcada? Isso é coisa que se faça, mandar telegrama urgente para quem tem poupança Plim?" Alguém ousa atirar a primeira pedra?

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