São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Livro de PMs defende armanento de civis

RODRIGO VERGARA

RODRIGO VERGARA; ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Capitães da Polícia Militar ensinam que cidadãos devem reagir a ação violenta e a colocar bandido 'fora de combate'

Em meio a um clima de pavor causado por um grupo que assalta, espanca e estupra mulheres de classe média alta em São Paulo, cinco capitães da Polícia Militar lançaram ontem um livro que defende o armamento da população.
Na obra, intitulada "Reaja! Prepare-se para o Confronto - Técnicas Israelenses de Combate", três princípios básicos destacam-se: os cidadãos devem reagir diante de uma ação violenta, o uso de arma de fogo é recomendável, desde que a pessoa seja treinada, e o bandido é uma pessoa "menos humana" e deve ser posto "fora de combate".
Um dos trechos ensina como reagir. "Quando alguém quer eliminá-lo, atire na região de maior alvo, mas se possível na cabeça." Os autores dizem que é melhor deixar viúva a mulher do ladrão.
As idéias dos autores chamam a atenção por serem totalmente contrárias às posturas ostentadas pela Secretaria da Segurança Pública e pelo comando da Polícia Militar, de desarmar a população e de valorizar os direitos humanos.
Mas as divergências não param por aí. Os autores chegam a criticar a Polícia Militar, no primeiro capítulo, e definem como "deficiente" a formação do policial militar em todo o Brasil.
O comandante da Polícia Militar, coronel Carlos Alberto de Camargo, disse ontem que o livro é "contra a política" da corporação. "Eu respeito o direito de escrever, mas não avalizamos isso aí."
"Esse livro presta um enorme desserviço a uma idéia tão avançada como a do desarmamento", afirmou ontem o advogado Jairo Fonseca, presidente da comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
'Bico' ilegal
Os cinco autores têm em comum mais que o livro lançado ontem, no Clube dos Oficiais da PM. Entre 89 e 94, todos fizeram parte do corpo de proteção pessoal do então governador Luiz Antonio Fleury Filho, onde se conheceram, e hoje trabalham juntos, em uma atividade irregular para policiais militares: são instrutores em uma empresa de segurança.
Um dos proprietários da empresa, que abriga um estande de tiro, é a mulher de um dos autores do livro, o capitão Sérgio Olimpio Gomes. Os outros autores são os capitães Rogério da Rocha Bortoletto, Márcio Tadeu Anhaia de Lemos, Afonso César Evaristo dos Santos e Ricardo Fernandes de Barros.
Técnicas
O livro é dividido em cinco capítulos, quatro deles dedicados ao confronto armado com oponentes. As explicações das técnicas são acompanhadas de fotos dos próprios autores empunhando armas em várias posições. Estão previstos confrontos dentro de veículos e dicas de procedimento para pessoas que trabalham como seguranças.

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