São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Livro é 'fascistóide', diz advogado

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da comissão de direitos humanos da OAB São Paulo, Jairo Fonseca, disse ontem que o livro de autoria dos cinco capitães da polícia é "fascistóide" em alguns conceitos e "ingênuo" em algumas passagens.
"Eles estão confirmando que a Polícia Militar, responsável pelo policiamento preventivo, está falida, para querer que a própria população faça o serviço de polícia. Se temos que fazer cursos para nos proteger dos bandidos, é porque estamos à mercê deles totalmente. A polícia é que é treinada e paga para isso."
Na opinião de Fonseca, os capitães utilizam conceitos "fascistóides" ao qualificar os bandidos como "menos humanos" que os "cidadãos de bem".
"É como se fosse possível descobrir uma deficiência geral na cabeça dos bandidos, que os levasse para o crime. Elegem tipos como bons e outros como ruins."
A ingenuidade, segundo o advogado, é revelada quando o livro diz que quem tem porte de arma não vai praticar abuso com seu armamento.
"São abundantes os exemplos de uso abusivo de armas, principalmente por parte da polícia."
O pensamento de que cabe à população fazer cursos para defender-se dos criminosos, segundo Fonseca, "é um raciocínio de guerra. Ninguém sai com a arma na cintura para intimidar o bandido, só na guerra", diz.
Os policiais escritores criticam não só a proposta da OAB de desarmamento, mas também os argumentos que a justificam. O livro questiona estudo da OAB segundo o qual apenas 1 em cada 10 tentativas de reação a um assalto acaba com a "vitória" da vítima.
Os autores questionam os números obtidos pela OAB. Os casos em que o assaltado tenha atirado ou intimidado o assaltante ou criminoso usando seu armamento pessoal "não seriam registrados", segundo os capitães autores do livro de defesa pessoal.
"Esses casos não estão registrados simplesmente porque ninguém que tenha usado sua arma nessas condições comparecerá a um distrito policial para registrar um fato que somente lhe trará preocupações", diz o livro.
O texto dos capitães traz ainda exemplos, sem identificação dos protagonistas, em que a vítima exibiu sua arma ou apontou sua arma e conseguiu, com isso, que os assaltantes ou sequestradores fossem embora.
Fonseca diz que os números foram compilados em fóruns, em inquéritos e processos. "Quantos bandidos a gente acha na rua, morto por alguém que foi assaltado, revidou e fugiu?", pergunta o advogado.
"A campanha de desarmamento não é para o bandido. O bandido tem que ser desarmado pela polícia, não pelos cidadãos", diz Fonseca.
(RV)

Texto Anterior: TRECHOS
Próximo Texto: Polícia de Rio Claro começa a remontar duas ossadas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.