São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Sem ajuda de entidades, M. volta para casa

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A menina M.,11, grávida de 4 meses, deixou ontem o hospital às 19h40, deitada no banco traseiro da Parati de um primo de sua mãe. Os pais da menina não tinham dinheiro para voltar para casa, apesar de terem recebido oferta de ajuda de grupos católicos para o período da gravidez.
A família desistiu de realizar o aborto de M., que recebeu alta ontem à tarde.
Três passagens de ônibus do Rio até Sapucaia (a 210 km), onde a família mora, custam R$ 36. Até o início da noite, os pais aguardaram uma ambulância que seria enviada pela Prefeitura de Sapucaia. A prefeitura informou que o veículo só estaria disponível hoje.
Os pais de M., agricultores pobres, afirmaram que pretendem criar o neto, embora estejam em dificuldades financeiras. A família tem outra filha, e a renda mensal na casa é de cerca de R$ 100.
Desde que M. ficou grávida, os pais tiveram de interromper o trabalho na lavoura para consultar médicos. M. afirma ter sido estuprada. Os pais foram à Justiça para fazer o aborto, mas desistiram.
Anteontem, eles obtiveram diversas promessas de apoio. O ginecologista Altamiro Sathler Filho, que convenceu a família a mudar de idéia sobre o aborto, ofereceu-se para ser padrinho do bebê.
Integrantes da Comissão Diocesana em Defesa da Vida de São José dos Campos estiveram anteontem no Hospital Fernando Magalhães, onde a garota esteve internada, e ofereceram assistência médica, alimentação e abrigo à garota.
Os pais da menina disseram que iam estudar a oferta e poderiam até decidir se mudar para São José dos Campos (97 km de São Paulo).
A diretora do Hospital Fernando Magalhães, Carmen Athayde, disse que M. está bem de saúde, mas precisa de acompanhamento médico rigoroso para que não sofra, durante a gravidez, problemas de anemia e outros.
O agricultor V.O., pai de M., disse acreditar que a filha não está totalmente preparada para ser mãe, porque é muito criança. Afirmou, porém, que o aborto poderia ser muito traumatizante para ela.
A mãe da menina, M.P., 41, disse que a filha ficou mais tranquila com a notícia de que não seria submetida ao aborto, porque estava com medo da cirurgia.
M.P. disse também que M. ainda não sabe direito como acontece o parto. "Não expliquei para ela como a criança vai nascer, senão ela vai ficar com medo de novo e não vai parar de falar nisso", disse.
Em Sapucaia, moradores procuraram o padre da cidade, Luiz Fraga Magalhães, e ofereceram ajuda para criar o bebê. O padre disse que, na noite de 24 de dezembro, fará uma parábola comparando o nascimento do filho de M. ao nascimento de Cristo.

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