São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Mesmo sem Edmundo, final está arranhada

MARCELO DAMATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A possibilidade da presença do atacante Edmundo ganhou tamanha importância que já produziu arranhões na decisão do título do Brasileiro e também (mais um) na imagem dos dirigentes do futebol e da Justiça desportiva.
Em todo o mundo, essa discussão não aconteceria. Se um jogador é expulso num jogo, ele não joga, pelo menos, no seguinte.
Se aqui fosse assim, nestes dias os assuntos seriam o que o Palmeiras teria que fazer para dobrar um time superior a ele no Rio, e como o Vasco se armaria sem sua estrela.
Mas não é o que se vê. Na semana que antecede a decisão do campeonato mais importante do país, a expectativa de quem será o campeão fica nas sombras da de um novo jogo, o dos bastidores.
E como se o jogo falso quisesse "sugar" todo o brilho do verdadeiro, o primeiro foi marcado para a véspera do segundo.
E no confronto jurídico-político, há uma inversão em relação ao futebol: os "jogadores" (dirigentes, advogados, aliados políticos, patrocinadores) se escondem, tentam passar desapercebidos. Em contrapartida, os juízes da decisão, Luiz Cláudio Bezerra de Menezes, presidente do Tribunal Especial da CBF, de 1ª instância, e Luiz Zveiter, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, a instância de recurso, buscam os holofotes.
Zveiter chegou a dizer na noite de domingo, menos de duas horas depois da partida, que já havia definido sua posição ao ver o jogo na companhia de seu filho, mas que não poderia antecipá-lo para não ser impedido de julgar o caso por ter prejulgado a questão.
Ué, se ele já definiu sua posição, o prejulgamento já está feito, só resta saber qual é.
E Zveiter tem o queijo e a faca na mão. Como presidente do STJD, ele pode ou não dar o efeito suspensivo. E cabe a ele também convocar uma reunião extraordinária do tribunal para examinar a questão.
As suspeitas sobre a credibilidade da Justiça desportiva são tamanhas que o técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, disse que Edmundo foi orientado a provocar sua própria expulsão -porque os dirigentes vascaínos saberiam um meio de fazê-lo jogar no domingo- e nenhum presidente de tribunal disse ter se sentido ofendido.
Assim, não adianta mais Edmundo ser proibido de jogar, o mal já está feito.
A maioria dos torcedores provavelmente nunca terá certeza se o que venceu foi o poder político do Palmeiras ou a lei disciplinar no futebol.
Qualquer que seja o resultado do jogo no tribunal e no campo, esse título já estará manchado.
Nesse sentido, seria bom para o Vasco tricampeão que Edmundo estivesse ausente do último jogo e para o Palmeiras penta que ele tivesse jogado.
*
No caso de Edmundo ter provocado sua expulsão, uma tese que parece verossímil pela maneira descarada como ele chutou o zagueiro Cléber, um ponto precisa ser dito a seu favor: ele tem mais autocontrole do que lhe é atribuído.
Ainda que, nessa tese, tenha agido a favor de uma manobra condenável, sua frieza e espírito de grupo foram notáveis para um jogador sempre tachado de explosivo e egoísta.

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