São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 1997
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Triste Pessoa

NELSON DE SÁ

É tão verdadeiramente triste!, como escreve Leyla Perrone-Moisés, no programa da peça. O "Livro do Desassossego", espetáculo do diretor William Pereira baseado no livro "composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa", ou melhor, o poeta Fernando Pessoa, não deixa lugar para esperança.
Do amor à mera realidade, nada permanece nesta obra que vai demolindo uma a uma as ilusões corriqueiras da vida. O espetáculo foi criado sobre a prosa, aliás, um amontoado a que Fernando Pessoa não deu forma final e que nem sequer foi editado, em sua vida. Um guarda-livros devaneia, tão verdadeiramente triste, em "pequenas sínteses do universo e da vida". Sínteses de negação, que seduzem quem as ouve ("o ato de ouvir...", como escreve o encenador) sem forças, identificado em miséria.
William Pereira é um diretor singular. Um dos melhores de sua geração (de Gabriel Villela, talvez Ulysses Cruz), ele deixou subitamente o teatro mais comercial, de montagens por encomenda, em que havia se metido e voltou para o "experimental", para a "pesquisa", menos por algum cuidado "científico" e mais pelo prazer.
E vê-se bem em "Sinfonia de uma Noite Inquieta, ou Livro do Desassossego", no título completo da peça, o quanto há de verdadeiro, ou de "tão verdadeiramente triste", no que está fazendo agora. Reuniu um elenco de pouco mais do que alunos de interpretação e tirou deles uma sinceridade e uma paixão -ainda que na própria negação da paixão- comoventes.

*** SINFONIA DE UMA NOITE INQUIETA, OU O LIVRO DO DESASSOSSEGO - Texto: Bernardo Soares por Fernando Pessoa. Direção: William Pereira. Com: Adriana Mendonça e outros. ECA/USP - sala Alfredo Mesquita (av. Prof. Luciano Gualberto, trav. j, 215, Cidade Universitária, região sudoeste, tel. 818-4375). 125 lugares. Sex. e sáb.: 20h. Dom.: 19h. Até 21/12. Estac. grátis.

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