São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Sapucaia faz campanha para ajudar M.

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA ENVIADA ESPECIAL A SAPUCAIA (RJ)

Moradores de Sapucaia (a 210 km do Rio) aprovam a decisão da família de M., 11, grávida de 4 meses, de permitir que ela tenha o bebê e já iniciaram uma campanha para recolher roupas e alimentos para a garota e seu filho.
Uma loja do município vizinho de Três Rios mandou um enxoval para o bebê, e o padre de Sapucaia, Luiz Fraga Magalhães, recebeu várias ofertas de ajuda para a família.
"Acho que a menina deve ter o bebê, mesmo sendo pobre. Se precisar, até eu ajudo", disse o funcionário público Aguinaldo Medeiros. "Ela não arrumou? Então tem que ter o filho", disse o aposentado José Cândido Ribeiro.
M. afirma ter sido estuprada pelo lavrador Roberto Celeste, 38. A família conseguiu autorização judicial para realizar o aborto, mas desistiu.
M. esteve internada no Rio e teve alta anteontem. Sem dinheiro para voltar para casa, sua família permanecia no Rio na casa de parentes ontem, esperando um carro da prefeitura ou da igreja para voltar a Sapucaia. Segundo o padre Magalhães, ela só voltará amanhã, levada por parentes.
Um médico procurou o pai de M. e o convenceu a mudar de idéia sobre o aborto. O padre mostrou ao pai da menina um vídeo com imagens de um aborto.
Com imagens obtidas por uma ultra-sonografia, o vídeo exibe um feto de 3 meses sendo sugado do útero materno por um aparelho.
"A decisão foi da família, e agora vamos ajudar a criar o bebê", disse o padre Magalhães.
A professora de M. na escola, Marlene Bayão, 36, disse que, se depender dela, M. poderá continuar frequentando as aulas e que sugerirá a inclusão da disciplina de educação sexual no currículo. Na escola, estudam dez crianças num curso primário unificado.
"Não comentei nada com as outras crianças porque ninguém sabia que M. estava grávida. Vamos ter que contar às crianças o que aconteceu, é melhor que eles saibam a verdade", afirmou.
Na escola, M. era uma criança simpática e que gostava de matemática. Estava repetindo a 2ª série. Mesmo tendo deixado a escola no terceiro bimestre, quando começou a sentir enjôo, conseguiu média para passar de ano.
O delegado de Sapucaia, Gilson Dantas, disse que tentará ouvir a garota sobre o estupro. Segundo o delegado, não surgiram novas pistas sobre o paradeiro de Roberto Celeste, acusado pela menina de tê-la estuprado.
Celeste tem prisão decretada e está foragido. Policiais civis e militares estão fazendo buscas nos municípios da região.

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