São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Cheiro de 1966

JUCA KFOURI

Há um cheiro de 1966 no ar. Então, quando a seleção se preparava para a Copa da Inglaterra, não tínhamos um time, mas quatro.
E como tínhamos quatro (foram 44 convocados), de fato, não tínhamos nenhum.
O esforço era no sentido de levar o maior número possível de jogadores que haviam participado das campanhas do bicampeonato mundial, na Suécia e no Chile.
Assim foram para Liverpool, a terra dos Beatles e sede do Brasil nas oitavas-de-final, jogadores consagrados como Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Altair, uma defesa inteira, das Copas anteriores.
O resultado é conhecido. De Liverpool, com Garrincha e Pelé a bordo, a seleção voltou para o Brasil eliminada.
Para se ter uma idéia, a defesa que deveria ser a titular, composta por Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Roberto Dias e Édson, foi dispensada pelo técnico Vicente Feola, o mesmo de 1958.
Havia, no entanto, uma grande diferença no comando da seleção em relação às duas Copas vencidas: em vez de Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória, como ficou conhecido, estava João Havelange, convencido de que o tri seria barbada e de que faturaria o prestígio.
Feola tinha nas mãos uma geração de ouro e outra vocacionada para repeti-la, mas, titubeante, não soube montar um time, insistir numa formação e perdeu inapelavelmente para Hungria e Portugal, sempre por 3 a 1.
Na Copa, Feola usou nada menos que 21 dos 22 jogadores que levou e só o jovem ponta-esquerda do Santos Edu, chamado para repetir o fenômeno Pelé, com 16 anos, não entrou em campo.
Menos por estar contando com tantos jogadores do tetra e mais por não estar sedimentando um time, Zagallo pode repetir Feola.
Quando declara que na Copa da França tudo será diferente, também lembra Feola, que dizia o mesmo em relação à da Inglaterra depois de cada jogo inconvincente (sem trocadilho) da seleção.
É óbvio, por sinal, que na Copa tudo será diferente, mas para pior, diante de um grau de dificuldade muito, incomparavelmente maior.
E Zagallo parece estar apostando na providência divina.
Depois da Copa de 1974, e da Olimpíada de 1996, ele devia saber que não é por aí.
Enfim, o cheiro de 1966 está no ar. É hora de Zagallo definir seu time e com Rô-Rô, os tchecos que o digam.

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