São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 1997
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Depardon filma outra África

CARLOS ADRIANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois da obra-prima "La Captive du Désert", o diretor-fotógrafo Raymond Depardon não precisava mais fazer nenhum filme na África. Mas fez, ainda bem.
"Afriques: Comment Ça Va avec la Douleur?" (África: Como Vai Essa Dor?), que será exibido hoje, às 17h30 e 20h30, na Sala Cinemateca Folha, traz o sentido da urgência e o despojamento elaborado no registro da realidade na primeira pessoa.
Depardon constrói o filme ao redor de movimentos circulares de câmera. Seja em paisagens abertas ou fechadas, os giros em 360° da imagem arrastam o olhar na interrogação panorâmica.
A interação distanciada câmera/ser filmado alcança momentos sublimes, como a paciência da mãe e do filho no posto médico e a resistência dos idosos no hospital.
Depardon engaja discurso político sobre genocídios, refugiados e doenças com flagrantes de rostos e moscas, da nudez de Mandela e da menina, da luz que refrata sobre a lente e turva as figuras, do fardo das mulheres.
Com "Afriques", olhar-vigor sobre a dor de uma nação múltipla e fraturada, os documentários etno-turísticos e de compaixão humanitária podem ir para o lixo. Um filme penetra mais fundo nas crises e cicatrizes da consciência.

Filme: Afriques: Comment Ça Va avec la Douleur?
Direção: Raymond Depardon
Quando: hoje, às 17h30 e 20h30
Onde: Sala Cinemateca Folha (largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino, tel. 5084-2177)
Quanto: entrada franca

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