São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Casal consegue um desconto de 25%

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando encontrou uma casa abaixo do valor de mercado, a única preocupação do técnico em informática Valter Ricardo Mendes Filho, 23, era com relação ao estado de conservação do imóvel.
Supondo que havia algo de errado, levou um eletricista e um encanador para ter certeza do negócio.
Ele conta que não conseguia entender como o aluguel estimado em R$ 800 saía por R$ 600.
O que Mendes Filho não desconfiava é que há 12 anos aconteceu no local um crime de grande repercussão nacional. Esse era o motivo do desconto.
No sobrado da rua José Vieira Netto Leme, na Vila Santa Catarina (zona sul de São Paulo), no dia 6 de janeiro de 85, Roberto Peukert, então com 18 anos, matou com um revólver calibre 38 toda a sua família: pai, mãe e três irmãos.
Estigmatizado pelo crime, o preço é uma forma de atrair o inquilinos para o imóvel. É o que afirma a administradora da casa, que não quer ser identificada.
Segundo ela, a casa ficou um tempo desocupada e essa é a terceira família que vive no local. Muitos clientes, no entanto, já deixaram de alugá-la quando souberam do fato.
Mas viver em uma casa onde cinco pessoas foram assassinadas é motivo de piada para Mendes Filho e para sua mulher, Valéria Moro, 24. A única reclamação, brinca ele, é ter sido vítima de propaganda enganosa. "Quando mudamos, os vizinhos falaram muitas coisas assustadoras, mas nunca aconteceu nada."
Valéria conta que, enquanto arrumava a casa para a mudança, os vizinhos apareceram com fotos e reportagens sobre o crime. "Eles vinham com detalhes, para nos causar medo", afirma.
Apesar de se mostrarem céticos, eles contam que alguns amigos da família já se sentiram mal dentro da casa, principalmente no quarto do casal.
"Um amigo nosso, que não sabia da história, entrou no quarto e começou a se sentir mal. Teve de ir embora", conta Mendes Filho.
Em um dos quartos, eles mantêm uma cama de casal, que dizem ser ainda dos Peukert.
Trancado
Já o apartamento 132 do edifício Queen Anne, na rua Leôncio de Carvalho, no Paraíso, zona sudoeste de São Paulo, está vazio.
Ali, em janeiro de 90, o economista Norberto Francisco Santos matou sua mãe a tiros e em seguida suicidou-se.
Depois do crime ninguém mais residiu no imóvel. Segundo o síndico, a família nunca colocou o imóvel à venda ou para alugar.

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