São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Casas escondem histórias de violência

CLEIDE FLORESTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Você já pensou que pode estar morando em uma casa que foi cenário de um crime escabroso? Se isso nunca passou pela sua cabeça, comece a pensar no caso.
Imobiliárias ouvidas pela Folha afirmam que omitir o histórico dos imóveis -especialmente em casos de tragédia- é uma estratégia de venda utilizada para comercializar casas ou apartamentos que tenham sido palco de crimes.
As empresas afirmam que não é comum as pessoas perguntarem a história do imóvel quando vão visitá-lo, principalmente se ele está em bom estado. Por isso, a imobiliária acaba não revelando o caso.
Isso aconteceu com a microempresária Vera Laorde Lopes Carriconde. Há quase um mês, ela se mudou com a família para uma casa de 1.800 m2, no Morumbi, zona sudoeste de São Paulo.
No período da mudança, um vizinho alertou a família sobre um crime ocorrido no local.
Eles perguntaram à imobiliária, que negou a história. Mesmo assim, resolveram saber mais sobre o caso e descobriram que o crime do qual foram informados -de uma jovem que fora esfaqueada em um salão de jogos- acontecera em outra casa do bairro.
Na verdade, foi outro o crime ocorrido na casa em que mora a família Carriconde. Em agosto de 95, a professora Valéria Ivan Dias foi assassinada com um tiro na cabeça na garagem da casa, que estava vazia -o empresário Olinto Antonio Schimitt tinha acabado de mudar. O corpo foi trancado em um armário, no quarto de empregada. O crime foi descoberto pelo motorista do empresário alguns dias depois.
Vera só ficou sabendo dessa história quando foi procurada pela reportagem da Folha. Cristiane Lopes Carriconde, 24, que foi a primeira pessoa da família ouvida, ficou surpresa ao saber que uma mulher fora assassinada na casa.
"Nós desconfiávamos que tinha acontecido alguma coisa, chegamos a desistir da casa, só que isso foi desmentido pela imobiliária e acabamos alugando."
Segundo Vera, o preço pedido inicialmente pelo aluguel era de R$ 4.800, mas eles fecharam por R$ 3.150. "Agora acho que esse abatimento pode ter relação com o que aconteceu aqui", afirma.
Vera não vê nenhum problema em estar morando na casa. A família até pretende comprar o imóvel. "Já investimos aqui, adoramos a casa e não pretendemos jogar tudo isso fora", afirma.
Sua filha, Cristiane, no entanto, disse que eles não teriam alugado o imóvel se tivessem confirmado a história do caso antes.
Ela conta que sempre sentiu muito medo de ficar na casa -sozinha ou acompanha. Nas quatro primeiras noites na casa nova diz que não conseguia dormir.

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