São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 1997
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Vi o papa em Hollywood

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ir a Hollywood e não assistir a uma filmagem é, como se diz, ir a Roma e não ver o papa. É quase uma lei. Uma das maneiras, é pegar uma lista chamada "Hollywood on Location", onde você se informa sobre onde, quando e com quem vai ser rodada determinada cena.
Outro modo é assistir à gravação de algum show. Se a produção ainda é nova, você não precisa nem se movimentar muito, basta ficar comparando seus pezinhos com o de seus ídolos na calçada do Teatro Chinês, que algum produtor virá te oferecer um ingresso. Pegue, pois você nunca sabe se em breve o show para o qual ele está te convidando fará sucesso.
Assisti a "The Naked Truth", sucesso na TV dos EUA, exibido aqui pelo canal Sony. Mais sortudo, já sai do Brasil com meus ingressos na mão.
O programa é gravado nos antigos estúdios da Republic. Fico pensando se não estacionei meu carro alugado no que fora antigamente a porta de algum saloon frequentado por John Wayne, que, depois de limpar o barro das botas, entrou ali para ouvir Vera Ralston cantar.
Na porta de um dos estúdios, algumas mulheres bonitas e de ar austero recebem a platéia, que se acomoda em arquibancadas. Afinal não estamos num teatro, mas dentro de um estúdio de cinema.
Um comediante esquenta a platéia, com um delicioso monólogo sobre câmeras, cenários e curiosidades sobre o programa, enquanto um batalhão de pessoas anda de um lado para o outro no set esperando a gravação começar.
Não demora muito para o comediante de plantão avisar que só devemos rir se realmente acharmos graça e apresentar o elenco, dos menores aos maiores, até chegar a protagonista, apresentada hollywoodianamente: "E agora, senhoras e senhores, a estrela do nosso show, senhorita Tea Leoni".
A platéia vem abaixo. O americano ama suas estrelas como o brasileiro ama seus jogadores de futebol. Só falta fazer uma "hola". No caso de Tea Leoni, aliás, dá vontade de fazer. Bonita e talentosa, segura a platéia por toda a gravação com seu timing perfeito.
Quatro câmeras Panavision correm de lá prá cá. Os atores fazem o show inteiro, às vezes repetindo algo que saiu errado, ou mudando alguma coisa no texto. Duas ou três horas depois, volta o comediante para as despedidas. Tudo muito profissional. A platéia sai. O elenco, ainda no cenário, acena com ar cansado e se prepara para refazer algumas cenas.
É tarde. O velho estúdio está vazio, e meu carro lá longe. Mais longe ainda o meu hotel. Mas o que se pode fazer? Se John Wayne fazia isso todo dia, quem sou eu para reclamar?!?!

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