São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 1997
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Brasil recebe recomendação

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A mesma agência de classificação de risco que detonou uma nova onda de desvalorização e aperto financeiro na Ásia acaba de publicar relatório afirmando que a crise na região favorece Argentina e Brasil. O relatório da Moody's avalia as "Repercussões no Brasil e na Argentina da Crise Financeira Asiática".
Segundo o relatório, a crise serviu como um "wake-up call" (chamada para despertar), "particularmente no Brasil, onde a complacência estava estabelecida e a confiança nas políticas subjacentes ao programa de estabilização, baseado numa moeda forte e até agora bem sucedido, vinha sendo corroída". Brasil e Argentina, na avaliação da Moody's, vinham sendo as economias não-asiáticas mais afetadas pela crise que começou em Hong Kong no final de outubro. A agência confirma que tanto o real brasileiro quanto o peso argentino sofreram ataques especulativos. Mas as autoridades dos dois países "responderam rápida e vigorosamente" aos ataques.
A hipótese otimista é a da crise asiática de fato tornar-se um problema estritamente regional. Invertendo o roteiro dos anos 80, quando os países asiáticos tornaram-se exemplos de uma possível "nova industrialização" e reforma, com modelos exportadores e ajuste benigno à crise da dívida, agora seria a vez da América Latina mostrar-se virtuosa. Há vários fatores em favor deste cenário.
Na América Latina, não ocorreu nada sequer próximo disso, apesar da retomada do crescimento nos anos 90. Outro fator que pode influenciar uma avaliação de risco mais favorável a Brasil e Argentina é a qualidade dos seus sistemas bancários. Em boa medida, o ajuste, com abertura ao capital estrangeiro e fechamento de instituições mais frágeis, ocorreu nos últimos anos. Mas, na Ásia, a montanha de créditos podres apenas agora começa a ficar visível. A moratória coreana, cada vez mais iminente, é o melhor exemplo.
Contra este cenário de regionalização da crise está o Japão. Se a onda de quebras financeiras na economia mais rica da Ásia ultrapassar os limites, o impacto sobre Wall Street será inevitável. A crise voltaria, instantânea e automaticamente, a ser global.

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