São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997 |
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Jungmann contesta desmatamento
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) divulgou dados contestando estimativas do deputado Gilney Viana (PT-MT) de que a reforma agrária do governo Fernando Henrique Cardoso está desmatando na Amazônia uma área equivalente ao Estado de Alagoas."Não se desapropria áreas de floresta fechada, quase 90% das áreas desapropriadas são fazendas já desmatadas, e jamais o movimento ambientalista internacional atribuiu à reforma agrária o papel de vilão do meio ambiente", disse o ministro. Em reportagem publicada pela Folha no domingo passado, o deputado afirmou que os assentamentos rurais criados na Amazônia Legal, de 95 a 97, ocupam 5,5 milhões de hectares e estão provocando o desaparecimento de 2,75 milhões de hectares de floresta. Levantamento encomendado pelo ministro aponta que o atual governo ainda não desapropriou 5 milhões de hectares. Por isso, essa marca não poderia ter sido ainda superada pelos assentamentos criados na Amazônia Legal (AC, AM, AP, MA, MT, PA, RR, RO e TO). Para o ministro, "as grandes fontes de desmatamento na Amazônia são as grandes fazendas de gado, as madeireiras e o garimpo". No relatório do deputado à comissão especial criada na Câmara para avaliar o desmatamento na Amazônia, consta que 76,15% da área dos assentamentos agrários do governo FHC foram implantados na Amazônia Legal, abrigando 64,34% das famílias beneficiadas pelo programa. O levantamento encaminhado por Jungmann aponta que as famílias assentadas na Amazônia correspondem a 55% do total realizado no país durante o atual governo. Na Amazônia Legal, a reforma agrária beneficiou cerca de 103 mil das 186 mil famílias assentadas desde 95. Ibase Jungmann disse que estudo desenvolvido pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) afirma que a agricultura é responsável por 4% da devastação ambiental. Essa entidade foi criada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, morto em agosto último. O ministro contestou também a informação divulgada pelo deputado de que 25,54 milhões de hectares foram destinados à reforma agrária desde o começo do regime militar, em 1964. Esse número foi usado pelo deputado para estimar que 30% dos 40 milhões de hectares desmatados na Amazônia estão relacionados com os assentamentos de reforma agrária. Para estimar a área devastada pela reforma agrária, Viana se baseou no índice de 50% de desmatamento que a legislação florestal permite para projetos agrícolas. Cerrado Na condição de ex-presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Jungmann afirmou que a Amazônia Legal não é inteiramente coberta por florestas. Disse que há no Mato Grosso, por exemplo, extensas áreas de cerrado. Nessa situação, segundo ele, encontra-se o assentamento Eldorado 1, onde fotos de satélites captadas em junho de 93 e em julho de 95 mostram que os 34,04 mil hectares de floresta fechada praticamente desapareceram. "Nesse assentamento estão apenas 395 famílias. Isso só poderia acontecer se os assentados tivessem virado cupins-gigantes para desmatar quase tudo em dois anos", disse Jungmann. Texto Anterior: Governo diverge sobre desmatamento Índice |
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