São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Tecnologia é menor onde há mais fraude

DANIEL BRAMATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A informatização de cerca de 50% dos votos na eleição de 1998 -índice anunciado pela Justiça Eleitoral- não significará, necessariamente, a redução de 50% no risco de ocorrência de fraudes.
A votação e a apuração só serão feitas nas chamadas urnas eletrônicas em 249 cidades, das quais 177 ficam nas regiões Sul e Sudeste.
Nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, que concentram cerca de 40% do eleitorado brasileiro e elegem a maioria dos deputados federais, apenas 72 municípios usarão urnas eletrônicas.
Justamente nessas regiões é mais precária a estrutura de fiscalização, tanto da Justiça Eleitoral quanto dos partidos -o que facilita a ocorrência de fraudes.
A distorção ocorre porque o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) não obteve recursos para promover a informatização de 70% do eleitorado, como pretendia. Assim, optou por contemplar apenas as cidades com mais de 52 mil eleitores.
"Por falta de verbas, o TSE adotou um critério que só favorece a continuidade do abuso de poder, do coronelismo e de todas as modalidades de corrupção que sempre ocorreram nos grotões do interior brasileiro", afirma o advogado Lauro Barreto, especialista em legislação eleitoral.
No livro "Eleições 98 - Comentários à Lei nº 9.504/97", que será lançado em janeiro pela editora Lumens Juris, Barreto apresenta o mapeamento completo da informatização do voto no país.
O levantamento demonstra que, com exceção da região Sudeste (em que o voto eletrônico estará disponível para 66% dos eleitores), todas as demais apresentam índice de informatização inferior à média nacional.
O pior índice é o do Nordeste, de apenas 32,13%. Em Estados como Piauí, Maranhão e Sergipe, mais de 75% dos votos serão apurados manualmente. Na região Norte, o índice é de 38,2%.
No Centro-Oeste, chega a 47,2%, mas só se aproxima da média nacional por causa da informatização total das eleições no Distrito Federal. Nos demais Estados da região (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), o índice varia de 32% a 42,4%.
"Em 98, só nos grandes centros urbanos do 'Sul maravilha' -onde o eleitorado é mais politizado, a oposição é forte e a mídia exerce fiscalização- é que o voto será realmente informatizado", afirma.

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