São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Presos morreram após rendição, diz refém

VANDECK SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

A coordenadora da Pastoral Carcerária de Fortaleza (CE), Eunízia Barroso, um dos três reféns feridos anteontem na tentativa de fuga de presos do Instituto Penal Paulo Sarasate,disse ontem "ter certeza" de que os tiros que a atingiram foram disparados por policiais.
Ela estava com um dos quatro grupos de fugitivos, em um automóvel Santana que foi interceptado por uma barreira policial. Segundo Eunízia, os presidiários que a mantinham como refém não dispararam nenhum tiro contra ela.
Ela disse ter visto pelo menos dois detentos se renderem e serem baleados depois de terem se deitado no chão, a pedido da polícia. "A polícia foi logo atirando."
Segundo o chefe de necropsia do IML (Instituto Médico Legal) de Fortaleza, Edmilson de Lima, 53, dos oito corpos de detentos submetidos a necropsia, apenas um não morreu com ferimentos a bala: Robério Fátima da Silva, 24.
"Com exceção de Robério, os demais foram vítimas de tiros."
A rebelião no presídio Paulo Sarasate durou cerca de 25 horas e foi encerrada anteontem à tarde, deixando três reféns feridos e pelo menos oito detentos mortos.
No dia do motim, a PM informou haver nove mortos. Até ontem, porém, só oito corpos haviam dado entrada no IML de Fortaleza.
O deputado estadual Mário Mamede (PT), presidente da comissão de Direitos Humanos da Assembléia, classificou de massacre a captura.
Ele se reuniu com representantes da Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese da Câmara e da Anistia Internacional. Nota divulgada depois da reunião pede investigação da Polícia Federal.
A perseguição foi feita pela PM, sob coordenação do comandante da PM em Fortaleza, coronel Magalhães, que não foi localizado.
O assessor da Secretaria da Segurança Pública do Ceará, coronel Castelo Branco, disse que o que houve foi uma "guerra". "E quando você vai para uma guerra, você vai para matar ou morrer, não vai para dar beijinho."
Ele disse que vai ser aberto inquérito pela Corregedoria da Secretaria da Segurança para apurar as circunstâncias das mortes.
O governador Tasso Jereissati reuniu-se com o secretário de Segurança, Cândido Vargas Freire, a diretora do Sistema Penitenciário, Sandra Dondi, e outros membros do secretariado. Na saída, Freire disse que o laudo do IML vai comprovar que não houve assassinato. "A ação da polícia foi correta."
O governo informou que o Ministério Público vai acompanhar o inquérito policial instaurado para investigar o caso e decidiu instalar detectores de metais para evitar a entrada de armas na penitenciária.

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