São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Documentário ganha sua bíblia

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A nova onda do documentarismo ataca nas livrarias -infelizmente ainda não nas brasileiras. "Imagining Realities - The Faber Book of Documentary" (Realidades Imaginárias - O Livro Faber do Documentário) é o título do ano. Até o surgimento da antologia organizada na Inglaterra por Kevin Macdonald e Mark Cousins, não existia nada semelhante do gênero.
Num único volume tem-se, mais do que um resumo da história do documentário, uma rica trama de textos escritos por cineastas, críticos e historiadores, dando conta das principais linhas evolutivas do filme empenhado em tatear o mundo sem lançar mão do arsenal ficcional. O brasileiro Alberto Cavalcanti (1897-1982), um dos pais do documentarismo britânico dos anos 30, e o cubano Santiago Alvarez, 78, são os únicos diretores latino-americanos celebrados.
Macdonald e Cousins, porém, desde sempre relativizam a dissociação ficção/documentário. Já ao falar do pioneirismo documental dos Lumière, frisam a organização dramática e a manipulação essencial do "naco de realidade" a ser registrado. "Até mesmo no mais simples filme não-ficcional, a relação entre cinema e realidade não é direta ou literal, mas sim metafórica", alertam os organizadores.
Subdivididos em 12 capítulos, as quatro partes e um interlúdio de "Imagining Realities" acompanham cronologicamente a evolução do documentário. A parte inicial, reservada ao período mudo, enfoca os pioneiros, os caçadores de imagens exóticas, a escola soviética de Vertov e Karmen e as experiências vanguardistas de Joris Ivens, Walter Ruttman e Buñuel.
O documentário como um ensaio fílmico, e não mera reportagem filmada, abre a parte três, tratando de clássicos de Resnais, Welles, Marker etc. Segue-se talvez o ponto alto do volume, um exaustivo e delicioso capítulo sobre o "cinema direto" dos anos 60, de Leacock, Wiseman, Rouch e cia..
A última parte faz uma balanço do presente e discute as novas tendências. Um capítulo discute as diversas faces do documentarismo socialmente engajado, da militância castrista de Santiago Alvarez à releitura do sonho americano por Steve James ("Hoop Dreams").
O selo "Diversidade" tenta justificar um enfoque excessivamente abrangente de diretores e filmes de variado impacto recente, de "Shoah", de Lanzmann, às reportagens de Nick Broomfield ("Heidi Fleiss: Hollywood Madame"). Depoimentos sobre o futuro do documentário de 15 cineastas encerram o livro. A acreditar neles, novas edições de "Imagining Realities" não faltarão.

Livro: Imaging Realities: The Faber Book of Documentary
Organização: Kevin Macdonald e Mark Cousins
Quanto: US$ 29,95 (400 págs.)
Onde encomendar: www.amazon.com

LEIA MAIS sobre "Imagining Realities" à pág. 4-5

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