São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Partido caminha ao monopólio do poder

RODRIGO LEITE
DA REDAÇÃO

Quando o presidente Nelson Mandela anunciou neste mês que pretende se aposentar, tomou uma atitude rara entre líderes africanos. Mandela, 79, chegou tardiamente ao poder (em 1994, ao passo que muitos dos que participaram da luta contra o colonialismo assumiram o governo logo após a independência) e vai deixá-lo após cumprir um único mandato.
Mandela, Nobel da Paz de 1993, deve agora se tornar uma espécie de "árbitro" das grandes questões políticas do país e do continente. Ele ainda goza de grande popularidade no país e conseguiu uma boa nota B na avaliação anual do "Mail and Guardian" -segundo o jornal, o presidente perdeu tempo encaminhando a ascensão de Mbeki, mas mantém sua capacidade de reconciliação.
O que estimula Mandela a deixar o poder é a certeza de que seu candidato será eleito. Ninguém acredita que Thabo Mbeki perderá a eleição de 1999, e nenhum dos outros partidos (principalmente o branco Partido Nacional e o Partido da Liberdade Inkatha, da etnia negra zulu) apresentaram até agora uma candidatura viável.
Ao menos por enquanto, o CNA parece rumar para ser uma versão local do PRI, o hegemônico Partido Revolucionário Institucional mexicano, cujas decisões internas há sete décadas se confundem com as mudanças na política nacional.
A principal discussão na convenção do CNA foi a escolha do novo vice-presidente do partido, que também deve se tornar o novo vice-presidente do país e, talvez, o sucessor de Mbeki.
A ex-primeira-dama Winnie Mandela era candidata. Sob fortes suspeitas de desrespeito aos direitos humanos, acabou perdendo a vaga para o candidato de Mbeki, Jacob Zuma.
A avaliação da maioria dos analistas é que o CNA conseguiu superar suas divisões no seu 50º congresso. O partido também aprovou o programa Gear (marcha, em inglês, um acrônimo para "crescimento, economia e redistribuição"). É o nome do projeto econômico que já está sendo conduzido pelo governo, mas ainda sem resultados expressivos na superação das diferenças sociais.
(RL)

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