São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Estratégia, não aposta

CLAUDIO MONTEIRO CONSIDERA

A estratégia econômica brasileira pós-estabilização tem sido a de promover, por mecanismos macroeconômicos, os ajustes estruturais necessários para retornar a uma trajetória de crescimento sustentado de longo prazo.
Assim, em 1997 a indústria liderou o processo de crescimento, expandindo-se em 5,5% até o terceiro trimestre, baseada principalmente na produção de bens de capital e intermediários. As exportações em 1997 terão alta superior a 10%, basicamente explicada pelo aumento de quantidade, com importante crescimento dos manufaturados.
A crise internacional afetou o Brasil no principal aspecto de sua estratégia de longo prazo (a qual nada tem de aposta, como querem seus críticos): o uso de poupança externa para suprir um baixo nível de poupança doméstica.
Com a possibilidade de perdas acentuadas de reservas, e evitando desvalorizar o real, aumentaram-se os juros, como sinal de que é preferível uma recessão curta do que qualquer perspectiva de retorno da espiral inflacionária.
O ajuste fiscal, por sua vez, teve um caráter de longo prazo e procurou mostrar que a política fiscal expansiva seguida até então não retornará.
O impacto das medidas se fez sentir rapidamente em novembro. A produção industrial, segundo o Ipea, aponta queda de 5,8% sobre o mês anterior e deverá terminar o ano com alta de 4%, em vez dos 5,4% previstos antes da crise. Com isso, o PIB de 1997 deverá ter seu crescimento reduzido para 3,2%.
O ano de 1998 deverá iniciar-se com forte redução da atividade econômica. A produção industrial, segundo prevê o Ipea, deverá apresentar queda de 2,8% no primeiro semestre, na comparação com o primeiro semestre de 1997.
O PIB deverá cair 2,1% no primeiro trimestre, mas crescer 0,5% no segundo. Isso representará, no primeiro semestre, um PIB idêntico ao de igual período de 1997. Após forte retração no primeiro trimestre, a atividade econômica deve recuperar-se no segundo, com indicações positivas para o restante do ano, apontando para uma alta do PIB entre 1,5% e 2,5% em 1998.
Esses resultados poderão ser bem melhores caso seja possível reduzir mais rapidamente os juros. Isso dependerá da confiança dos investidores nos resultados do ajuste fiscal e das reformas econômicas e na continuidade das privatizações e da abertura comercial.
Não há nenhuma aposta nessa estratégia. Há um objetivo: voltar a crescer de forma sustentada, sem inflação e com maior equidade social. Há um caminho: tornar a economia brasileira mais competitiva, aproveitando a poupança externa; modernizar o Estado (fazendo as reformas e privatizando a produção de bens e serviços mercantis) e voltá-lo para a produção de serviços não-mercantis (educação, saúde e saneamento), para atender a população mais pobre e homogeneizar a força de trabalho no ponto de partida da competição econômica. E há um instrumento: a política macroeconômica.
A única aposta em jogo é a dos que apostam no fracasso dessa estratégia e na volta do cassino inflacionário. Nisso reside sua esperança de voltar a levar o país ao atraso dos anos 80, quando viver de juros e do imposto inflacionário arrecadado dos mais pobres eram os recursos prediletos da classe ociosa.

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