São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 1997
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Um dia de pós-Natal

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Os sinos de Natal já bimbalharam tudo o que podiam bimbalhar. Papai Noel trouxe para os netos tudo o que eles pediram, para os filhos nem tanto e, para a mulher, menos ainda (é o inexorável, embora injusto, ciclo da vida).
A sexta-feira promete. Posso trabalhar em casa, sem o martírio de enfrentar o calor absurdo que esse governo incompetente não consegue reduzir.
Mas a Folha estraga o dia com a manchete em que mostra que os carros vendidos no Brasil custam mais do que idênticos modelos na Europa ou nos Estados Unidos.
O que assusta é pensar no inverso, ou seja, no dia em que os veículos tiverem, no Brasil, preços iguais aos do mundo rico.
Se São Paulo já é o inferno que é com carros a preços elevados, dá pânico imaginar no que se transformará se os preços caírem. O automóvel deixará de ser meio de transporte para virar bibelô de avenida, incapaz de mover-se mais que centímetros por hora.
Saio para pagar as contas que o "bom velhinho" esqueceu de pagar. Espero um trânsito livre, ruas desertas, como São Paulo ficava não tão antigamente, nos feriados ou nas "pontes" entre eles.
Que nada. Nem com todo o decantado êxodo para o litoral e interior as ruas ficaram realmente desertas. O movimento caiu, claro, mas ainda assim é grande demais para estimular qualquer espírito natalino ou pós-natalino.
O shopping Ibirapuera está tão movimentado quanto em dias normais, sem Natal, Dia das Mães ou outra armadilha consumista do gênero. Há fila no estacionamento (ainda por cima pago). A manchete da Folha fica me assombrando enquanto espero a vaga. Onde, diabos, vão enfiar todos os carros se e quando o preço cair?
Apelo para o mais profundo espírito de Natal para não cair na tentação de torcer para que os preços subam ainda mais, em vez de cair.

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