São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Violência ganha espaço da habilidade

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Os delitos sem grande violência e sem ameaça estão perdendo espaço para crimes em que as vítimas são agredidas ou são intimidadas por armas de fogo ou facas.
O maior exemplo disso é a variação das taxas de furto (quando não há violência) e roubo entre os anos 50 e 90 em São Paulo.
Em 1950, 35,98% das condenações eram motivadas por furto e apenas 6,42% por roubo. Em 1974, pela primeira vez, as condenações por roubo superaram aquelas por furto: 28,21% contra 24,69%. Este ano, a taxa de condenação por roubo (47%) é quatro vezes superior à taxa por furto (11,7%).
Os números são da pesquisa "Sistema Penitenciário: Mudanças de Perfil dos Anos 50 aos 90", realizada pelo sociólogo Túlio Kahn, do Ilanud (Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente).
"Essa tendência revela um aumento no grau de violência dos delitos. O roubo é mais traumático para a vítima do que o furto, que é feito quase sempre sem que a vítima perceba", analisa Kahn.
Lourival Gomes, diretor da Coesp (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo), considera que os ladrões amadores e habilidosos estão sendo substituídos por criminosos amadores e violentos, que usam a arma para intimidar.
"A habilidade de ladrões como os punguistas, que furtavam carteiras dos bolsos sem a vítima perceber, está dando lugar ao revólver", diz Gomes.
Outro dado que mostra que os crimes estão cada vez mais violentos é o aumento na taxa de latrocínio (roubo seguido de morte).
Em 1950, apenas 0,3% dos presos cumpriam pena por latrocínio. Em 97, essa taxa subiu para 11%.
O tráfico de drogas, apesar de ter aumentado consideravelmente em termos absolutos, se mantém estável em termos relativos. Entre as décadas de 50 e 90, os condenados por tráfico de drogas sempre representaram cerca de 10% da população carcerária paulista.
O pico do índice de condenados por tráfico foi em 76, quando esses criminosos eram 16,34% dos condenados. Neste ano, o índice de traficantes é de 11%.
O pesquisador Kahn ressalta que houve uma mudança no perfil dos condenados por tráfico. "Nos anos 70, era comum punir o usuário da droga. Hoje, a ação policial se dirige aos traficantes e mulas (transportadores de drogas)."
A pesquisa também revela que alguns tipos de crime relativamente comuns no passado desapareceram dos índices atuais de condenação.
É o caso do crime de sedução, motivo de condenação de 2,19% dos presos em 1950 e que não aparece nos índices de 1997.

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