São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Caçador de cometa

RICARDO ZORZETTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Está previsto para fevereiro de 1999 o início da primeira missão espacial destinada a coletar material de um cometa e trazê-lo para a Terra.
A Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) deverá lançar a sonda Stardust (poeira estelar, em inglês) ao encontro do cometa Wild-2, cujo raio mede cerca de 2 km. Ele foi descoberto em 1978 pelo astrônomo suíço Paul Wild.
Também deverá ser a primeira vez que uma espaçonave retorna com amostras de material extraterrestre coletadas em regiões mais distantes que a Lua.
Em 1970, a nave não tripulada soviética Luna-16 conseguiu pousar na superfície da Lua e coletar amostras do solo que retornaram à Terra para serem estudadas.
Além de amostras de partículas e gases liberados pelo cometa, a sonda espacial Stardust também deverá recolher poeira estelar durante a viagem.
A Stardust é a quarta missão da série Discovery (Descoberta) da Nasa, que pretende lançar ao espaço pequenas sondas de pesquisa com objetivos bem definidos, pouco tempo de desenvolvimento e baixo custo, ou seja, gastos inferiores a US$ 180 milhões.
A primeira missão dessa série foi a Mars Pathfinder, que enviou a Marte uma sonda e um veículo-robô, o Sojourner.
Segundo o administrador da Nasa, Daniel Goldwin, as missões planetárias devem ser "faster, better and cheaper" (mais rápidas, melhores e mais baratas).
Essa é a linha que a Nasa adotou para seguir com suas pesquisas espaciais, depois dos cortes de orçamento que vieram com o fim da Guerra Fria. Naquela época, a disputa política e militar com a União Soviética justificava os gastos dos EUA com a corrida espacial.
Encontro em 2004
O encontro entre o cometa Wild-2 e a sonda Stardust está previsto para ocorrer em 2004, quando ambos estarão a cerca de 279 milhões de quilômetros de distância do Sol, quase duas vezes a distância do Sol à Terra.
Esse cometa é relativamente novo no Sistema Solar. Antes de 1974, o ponto a que o cometa chegava mais próximo do Sol era a órbita de Júpiter, o quinto planeta do centro para a periferia do Sistema Solar.
Atualmente, a órbita do Wild-2 fica entre Júpiter e a Terra. Por ser um cometa "novo" no Sistema Solar -ele passou apenas cinco vezes pelo Sol-, seu núcleo, que é uma região sólida, deve conservar intactas características do material de que é composto.
Quanto maior o número de vezes o cometa passa próximo ao Sol, mais o seu núcleo perde partículas. Elas passam do estado sólido para o gasoso, devido ao aquecimento, dando origem à cauda dos cometas.
Como o Wild-2 é formado por matéria mais antiga que o Sistema Solar, o estudo de partículas e gases do cometa pode ajudar os pesquisadores a entender a formação do Sol e dos planetas.
Um dos interesses dos cientistas é confirmar a composição dos cometas. A grande expectativa é encontrar matéria orgânica (substâncias compostas pelo elemento químico carbono, que estão presentes nos organismos vivos terrestres). Isso daria suporte à teoria de que a vida pode ter começado na Terra com material vindo do espaço.
Para coletar material do cometa, a Stardust deverá chegar à distância de 150 km do seu núcleo, talvez menos.
Além de câmeras, que permitirão realizar análise da distribuição dos gases na cabeleira do cometa e definir seu núcleo, a Stardust carregará outros equipamentos.
Um espectrômetro de massa, semelhante ao utilizado na missão Giotto com o cometa Halley, em 1986, deverá enviar à Terra o resultado de análises químicas instantâneas das partículas e dos gases do cometa e também da poeira estelar que encontrar pelo caminho.
A poeira estelar consiste em partículas sólidas que se reuniram em nuvens de gases e deram origem ao Sol e aos planetas há bilhões de anos.
Retorno à Terra
No entanto, a grande novidade da missão Stardust será trazer parte do material que coletar para ser estudado na Terra, com equipamentos muito mais potentes em laboratórios especializados.
Na coleta de partículas microscópicas do cometa e moléculas dos gases da cauda, a sonda deverá utilizar um equipamento parecido com uma raquete de tênis composto de aerogel.
O aerogel é um material microporoso de baixa densidade, feito à base de sílica. Ele vem sendo desenvolvido pelo Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa há cerca de uma década.
Além de manter condições de temperatura praticamente inalteradas, o aerogel é capaz de capturar partículas que colidem em alta velocidade com equipamento, sem danificá-las.
Quando a nave se aproximar do cometa, um compartimento deverá se abrir e esse coletor se armará.
Esse equipamento também será usado para trazer partículas de poeira estelar para a Terra. A viagem de volta da Stardust deverá durar cerca de dois anos.
Antes de entrar na atmosfera terrestre, por volta de 2006, a cápsula com o material extraterrestre se separa da porção principal da nave e aterrissa.

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