São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Zelig, 70, aprende a navegar

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

Avraham Zelig, 70, é presidente da Associação dos Sobreviventes do Gueto de Lodz (Polônia). Organiza um encontro anual em Israel, frequentado por parte dos 6.000 sobreviventes do gueto espalhados pelo mundo.
Ele está aprendendo a navegar na Internet. "Pretendo começar a usar a Internet em 98", afirma. Mas seus amigos não estão familiarizados com as novas tecnologias. Segundo ele, a "segunda geração" (filhos de sobreviventes) é quem se encarrega das iniciativas relacionadas aos sobreviventes na Internet.
Ao contrário de muitos, Zelig não guarda esperança de reencontros. No campo de Auschwitz, o então garoto de 17 anos perdeu o pai e dois irmãos. "Os alemães os mataram na minha presença." Libertado em 1945, pesando 30 kg, Zelig voltou à Polônia. Em 1948, imigrou para Israel, onde vive até os dias de hoje. Leia trechos de sua entrevista, concedida à Folha por telefone, de Jerusalém.
Folha - Seus amigos sobreviventes estão ligados à Internet?
Avraham Zelig - As pessoas de nossa idade (70 anos ou mais) não estão acostumadas à Internet. Muitos têm medo de usá-la, ou não entendem como funciona. É muito sofisticada para a gente. Mas nossos netos estão usando.
Folha - A rede de computadores pode trazer benefícios aos sobreviventes do Holocausto?
Zelig - Estou estudando como funciona a Internet. Queremos ter até o ano que vem uma página, para poder contar para as futuras gerações como era a vida iídiche em Lodz. Não quero deixar apenas a imagem triste trazida pelo nazismo, mas sim a beleza da vida judaica de antes da guerra.
Folha - Sua associação usará a Internet na busca de familiares perdidos na Segunda Guerra?
Zelig - A Internet também poderia nos servir para isto, mas acho que agora já é muito difícil encontrar pessoas. Nossa geração já está acabando, e seria bom deixar o nosso relato para o futuro.
Folha - O sr. ainda tem esperança de encontrar alguém?
Zelig - Não. Os alemães mataram meu pai e dois irmãos meus na minha presença, no campo de Auschwitz. Quando fui libertado, voltei para a Polônia, onde encontrei minha mãe e minha irmã. Fiquei muito feliz de ainda encontrar alguém. Todos os meus sete tios e 45 ou 50 familiares foram mortos.
(MS)

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