São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 1997
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Máfias ameaçam cinema indiano

The Independent
de Londres

PETER POPHAM
EM NOVA DÉLI

Em Bombaim, o outono é a temporada de estréias do cinema nacional, quando os cerca de 120 filmes produzidos por ano na cidade brigam pela atenção do público, com outdoors, luzes e limusines.
Mas, no outono deste ano, poucos filmes foram lançados. As estrelas do cinema indiano não têm sido fotografadas em seus carros, mas cercadas de guarda-costas.
Bollywood -a Hollywood de Bombaim- está assustada. O envolvimento do cinema indiano com o crime organizado veio à tona com uma sequência de assassinatos e tentativas de assassinato em 97. A indústria se acovardou.
O fato mais marcante aconteceu em agosto, com o assassinato a tiros de um magnata do cinema indiano chamado Gulsham Kumar. Figura baixa e gordinha, que começou a vida vendendo suco de frutas nas ruas de Nova Déli e enriqueceu com a venda de fitas cassete pirateadas, ele era um homem importante em Bollywood.
Em março o produtor Mukash Duggal havia sido baleado diante de seu escritório. Quando dois outros produtores escaparam por pouco da morte, as pessoas começaram a ficar ressabiadas.
Dizia-se que as máfias da cidade estavam exigindo fatias enormes dos lucros dos filmes e que, quando rechaçadas, manifestavam sua insatisfação à sua maneira. Comentava-se que até 150 celebridades teriam recebido ameaças.
O problema crônico é que, devido aos riscos envolvidos no financiamento de filmes e à recusa do governo em conceder ao cinema o status de indústria, Bollywood sempre teve dificuldade para obter financiamento para seus filmes.
Os filmes indianos costumavam custar quase nada, pelos padrões ocidentais -nos anos 60 e 70, US$ 200 mil eram suficientes para produzir um filme comercial comum. Devido à falta de alternativas, o público indiano lotava os cinemas, por piores que fossem os filmes.
Mas, com a chegada da TV a cabo e satélite há cinco anos, Bollywood sentiu o gosto amargo da concorrência séria. Sua reação foi produzir musicais filmados em lugares exóticos. O problema é que cada filme passou a custar mais de US$ 1,5 milhão.
Munidas com o dinheiro das drogas, prostituição e transações imobiliárias em Bombaim, as máfias se ofereceram para ajudar. Em pouco tempo, entre 20% e 40% dos filmes estavam sendo feitos com dinheiro do crime organizado.
O negócio parecia ótimo. Mas, como observa o colunista Parwez Hafeez, "depois de convidar a máfia para entrar, era impossível mandá-la sair".
Com a queda nos preços dos imóveis em Bombaim nos últimos dois anos e a redução de suas outras fontes de renda, com a exceção dos entorpecentes, começou a faltar dinheiro para os mafiosos.
Assim, quando um de seus velhos amigos de Bollywood fazia um sucesso, o que poderia ser mais natural do que procurá-lo para lembrá-lo da velha amizade?

Tradução de Clara Allain.

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