São Paulo, terça-feira, 30 de dezembro de 1997 |
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Joseph H. Lewis recebe homenagem tardia
AMIR LABAKI
Antes tarde do que nunca. Lewis deve agradecer ao empurrão de dois colegas de profissão. Martin Scorsese destacou sua contribuição para sofisticar o filme B no documentário que rodou sobre cem anos de cinema americano para o British Film Institute. Neste ano, foi a vez de Peter Bogdanovich incluí-lo ao lado de mestres como Hawks, Hitchcock e Lang na indispensável reunião de entrevistas "Who the Devil Made It" (Quem Diabo Fez Isso, Alfred Knopf, 850 págs, US$ 39,95). O tardio reconhecimento crítico de seu talento parece ter inflado sobretudo a arrogância de Lewis. "Assinava meu nome em cada fotograma de filme", afirma o diretor de "O Falcão em São Francisco" (45). Influências? "William Wyler", responde de pronto -e é tudo. Prazos de filmagem? Sempre vaidosamente estourados. Contudo, reconheça-se, Lewis tinha estilo. Ele é um raro sobrevivente da geração que estreou no cinema ainda na era muda e formou-se na experiência prática dos estúdios, galgando posição a posição. De segundo assistente de câmera, tornou-se assistente de montagem, coordenador de montagem, diretor de cenas para letreiros até conseguir a grande chance de dividir uma direção em "Courage of the West" (37). Lewis começou rodando filmes B mesmo (isto é, aqueles que fechavam o programa duplo em cinemas mais populares) e sempre se orgulhou de tê-lo feito. O uso dramático de elipses e planos-sequência e a recusa às facilidades da verborragia filmada estão estampados em seus principais títulos. Até Lewis destaca, dentre os 38 filmes que rodou em 21 anos de carreira (passou depois para a televisão), o filme de gângsteres "Mortalmente Perigosa" (Gun Crazy, 49), uma espécie de "Bonnie and Clyde" (67) décadas "avant la lettre". No mesmo gênero, Lewis marcou época também com a ousada sensualidade de "Império do Crime" (54), em que insinuava a primeira relação de sexo oral numa produção hollywoodiana. Lewis não escolhia gêneros. Passava sem pestanejar de filmes de gângsteres a faroestes, deu-se bem em thrillers e foi até chamado para consertar musicais. Graças ao prêmio da crítica de Los Angeles, chega a hora da verdade para a obra de Joseph H. Lewis. Sua reputação oscilou do estigma da série B ao culto pela adoração ilustre. O autoproclamado "artista sem diploma" tem, ainda em vida, afinal a chance de se provar à altura de garantir sua vaga no restrito panteão hollywoodiano. O colunista Arnaldo Jabor está em férias. Texto Anterior: Autor acredita em "invasão estrangeira" Próximo Texto: Filmografia de Joseph H. Lewis Índice |
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